Episodios

  • Como a extrema direita global usa a retórica da perseguição para desviar de investigações judiciais
    Jul 11 2025
    A decisão de Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, sob a justificativa de que o governo Lula e o Judiciário estariam promovendo uma “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro, não é um gesto isolado. A retórica da perseguição política, usada para deslegitimar investigações e decisões judiciais, tem se consolidado como uma estratégia comum entre líderes e partidos de extrema direita em diferentes democracias. Na França, o partido Reunião Nacional (RN), liderado por Marine Le Pen, adotou discurso semelhante esta semana ao reagir a novas investigações sobre financiamento ilegal de campanhas e desvio de recursos do Parlamento Europeu. A legenda acusa juízes, "as elites" e a imprensa de conduzirem uma campanha ideológica contra seus dirigentes, em uma narrativa que ecoa as falas de Trump e Bolsonaro. Em março, Le Pen foi condenada a cinco anos de inelegibilidade por desvio de recursos do Parlamento Europeu. Embora tenha recorrido, a confirmação da sentença pode impedi-la de disputar a presidência em 2027. Agora, o RN enfrenta duas novas frentes de investigação: uma sobre o uso abusivo de empréstimos de pessoas físicas em campanhas eleitorais, e outra, mais grave, conduzida pelo Ministério Público Europeu, que apura o desvio de cerca de € 4,3 milhões entre 2019 e 2024. Nesta semana, a sede do partido em Paris foi alvo de buscas por parte de policiais e juízes. Documentos foram apreendidos, e há suspeitas de que os recursos desviados tenham beneficiado empresas ligadas a aliados próximos de Le Pen, por meio de contratos sem licitação adequada. O presidente do partido, Jordan Bardella, reagiu classificando a operação como “assédio político” e acusando parte do Judiciário de agir com motivação ideológica. Um porta-voz do RN chegou a fazer alegações falsas sobre sindicatos de juízes, desmentidas por checagens documentadas pela imprensa. Crise de confiança A ofensiva contra o Judiciário francês não é exclusiva da extrema direita. Nesta sexta-feira (11), três deputados de centro-direita e direita conservadora também foram declarados inelegíveis por irregularidades nas contas de campanha. Ainda assim, a retórica de perseguição tem sido mais sistematicamente explorada por partidos como o RN, que buscam mobilizar sua base eleitoral e desviar o foco das acusações. A confiança da população francesa na Justiça está em queda: apenas 48% dizem confiar no sistema judiciário, segundo pesquisa do Instituto Ifop divulgada em abril. Especialistas alertam que ataques à independência do Judiciário alimentam essa crise e colocam em risco os pilares do Estado de Direito. Nos Estados Unidos, Trump enfrenta vários processos e acusa o sistema de ser manipulado por “juízes de esquerda”. No Brasil, Bolsonaro e seus aliados também alegam ser vítimas de perseguição. Em todos os casos, a retórica da perseguição política serve como escudo contra investigações legítimas. E como mostra a tarifa imposta pelo presidente dos EUA ao Brasil, pode até ser usada como justificativa para ações controversas de intimidação contra um país soberano. Justiça francesa: absolvições e condenações recentes mostram atuação firme e diversa Dois ex-ministros da Saúde da França, Olivier Véran e Agnès Buzyn, foram recentemente inocentados pela Justiça após investigações relacionadas à gestão da pandemia de Covid-19. Ambos haviam sido acusados de falhas na antecipação e no enfrentamento da crise sanitária. No entanto, após análise detalhada dos fatos, o tribunal concluiu que não houve negligência penal por parte dos ex-ministros, reconhecendo a complexidade e a imprevisibilidade do contexto da pandemia. Os dois ex-ministros são do partido do presidente Emmanuel Macron. Em contraste com os casos de absolvição, o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy teve sua condenação por corrupção e tráfico de influência confirmada pela Justiça. Ele foi sentenciado a um ano de prisão no chamado “caso das escutas telefônicas”, mas cumpriu a pena em regime domiciliar com tornozeleira eletrônica. Em maio, Sarkozy obteve liberdade condicional e teve o monitoramento eletrônico suspenso. Aos 70 anos, o ex-líder da direita ainda responde a outros processos, incluindo o julgamento sobre o suposto financiamento ilegal de sua campanha presidencial de 2007 com recursos do regime líbio de Muammar Khadafi. Outro caso emblemático é o do ex-primeiro-ministro conservador François Fillon, condenado em junho deste ano a quatro anos de prisão com suspensão condicional da pena, além de uma multa de € 375 mil e cinco anos de inelegibilidade. A condenação se refere ao escândalo conhecido como “Penelopegate”, revelado em 2017, quando veio à tona que Fillon contratou sua esposa, Penélope, como assessora parlamentar sem que ela exercesse efetivamente a função.
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  • Entenda por que a atual onda de calor na Europa é uma das mais preocupantes já registradas
    Jul 2 2025
    A Europa é palco da primeira onda de calor deste início de verão no Hemisfério Norte, com novos recordes de temperatura e com uma duração inédita. Mortes relacionadas ao calor foram registradas nos últimos dias na Itália, Espanha e na França. Países do sul da Europa estão vivendo sob o alerta máximo a temperaturas extremas. Daniella Franco, da RFI A Europa não esquece a onda de calor registrada em agosto de 2003, quando mais de 70 mil pessoas morreram em decorrência das temperaturas extremas. Em termos de gravidade, o atual episódio não pode ser comparado ao de 22 anos atrás, mas ele tem características que levam especialistas em clima a classificá-lo como um dos mais preocupantes dos últimos tempos. Até os anos 2000, ondas de calor antes do início do verão no Hemisfério Norte eram consideradas raras na Europa. O período atual, que teve início no final de junho em vários países do sul, leva os cientistas a acreditarem que o fenômeno é uma nova tendência. Outro ponto que torna essa onda de calor mais grave do que várias das anteriores são os recordes de temperatura registrados nos últimos dias da primavera: uma situação inédita. Os termômetros marcaram 46°C em El Granado, no sudoeste da Espanha, no sábado (28), e 46,6°C, no centro-sul de Portugal, no domingo (29). O atual episódio também é considerado mais longo. Há alguns anos os períodos de calor intenso duravam alguns dias em julho e agosto. Neste ano, a primeira onda de temperaturas extremas já dura 14 dias, com previsão de se estender até o próximo fim de semana. Além disso, o registro de calor intenso em países que antes não conheciam ondas de calor também é preocupante. Nesse episódio atual, não apenas países do sul da Europa - Portugal, Espanha, França, Itália, Grécia - estão sufocando. Nações do norte e do centro também registram temperaturas acima da média. É o caso de Reino Unido, Alemanha, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Áustria, Suíça, República Tcheca e Croácia. Balanço dos estragos da onda de calor Até o momento, o balanço de mortos desta onda de calor é de seis óbitos: dois na Itália, dois na Espanha e dois na França. No entanto, teme-se que o número de vítimas aumente nos próximos dias devido à previsão de continuação da onda de calor em alguns países e devido à quantidade de pessoas hospitalizadas. Apenas na França, os bombeiros socorreram cerca de 300 pessoas nos últimos dias devido ao “mal-estar térmico”. Na Itália, os hospitais registraram um aumento de 20% nos serviços de emergência, principalmente pessoas idosas sofrendo de desidratação. A multiplicação dos incêndios florestais neste período está sendo considerada como o principal impacto ambiental da primeira onda de calor de 2025 na Europa. Pelo menos quatro países registram fogo nas florestas e nas matas neste momento. Na Catalunha, no nordeste da Espanha, duas pessoas morreram e 6.500 hectares foram destruídos pelas chamas. Na Grécia, os bombeiros combatem um grande incêndio no sul de Atenas. A França registra dois focos atualmente, um no nordeste e outro na Córsega (sul). Já na Itália, o alerta para fogo florestal foi ativado em várias regiões, com cortes preventivos de eletricidade e restrições de atividades ao ar livre em várias localidades. Impacto na economia Um estudo divulgado na terça-feira (1°) pela Allianz Research, prevê a queda de mais de um ponto do PIB dos países mais atingidos pela atual onda de calor na Europa. Numa escala europeia, o PIB do bloco pode cair 0,5%. O grupo alemão calcula que um dia de trabalho com os termômetros marcando acima de 32°C equivale a um meio dia de greve. Segundo o estudo, quando o calor começa a exceder a marca de 32°C, a capacidade de desempenhar um trabalho físico cai 40%. A partir de 38°C, a queda na capacidade física é de mais de 66%. A razão é que com o calor intenso, o cérebro desacelera, os músculos se cansam mais rapidamente e a produtividade do trabalhador despenca. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) já vem fazendo esse tipo de alerta há alguns anos. Em 2024, projeções que foram calculadas com base em um aumento de temperatura de 1,5°C até o final desse século mostraram que 2,2% do total de horas trabalhadas no mundo inteiro vão ser perdidas por causa das temperaturas extremas. A previsão equivale a uma perda na produtividade de 80 milhões de empregos em tempo integral em todo o mundo. Um futuro “escaldante” Segundo um comunicado divulgado na terça-feira pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), esse atual episódio de temperaturas extremas não é uma exceção ou um acidente, mas “um prenúncio de um futuro escaldante”. Baseado em avaliações do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), o comunicado diz que nos próximos anos as ondas de calor se multiplicarão, se intensificarão, e serão mais longas. A Europa já é o continente que...
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  • Polícia francesa relativiza onda de agulhadas na Festa da Música, mas confirma que mulheres foram alvo
    Jun 27 2025
    A França é palco de uma forte preocupação depois que dezenas de picadas com agulhas supostamente contaminadas foram denunciadas às autoridades por frequentadores da Festa da Música no último fim de semana. A polícia francesa prendeu 14 homens e confirmou nesta semana que os ataques visaram mulheres. A população teme que essas agressões se repitam nas centenas de eventos ao livre programados para esse verão no país. Daniella Franco, da RFI Dados divulgados pelo Ministério do Interior da França apontam que 145 pessoas prestaram queixa na polícia alegando terem sido picadas durante a Festa da Música no último sábado (21). As violências foram registradas em várias cidades francesas: Paris, Lyon (centro leste), Angoulême (sudoeste), Estrasburgo, Metz, Nancy e Colmar (nordeste) e em Rouen (norte). Todas as vítimas passaram por análises toxicológicas, mas, na maioria dos casos, o resultado foi negativo ou não houve conclusão. Em nenhuma das pessoas que prestaram queixa e passaram por hospitais e centros de saúde do país alegando ter sido alvo de picadas foram detectadas substâncias psicotrópicas, patógenos ou qualquer tipo de contaminação. No entanto, várias das vítimas apresentaram marcas de agulhas e relataram sintomas, como vertigem, náusea, dor e mal-estar. As autoridades francesas deram sequência às investigações durante a semana e a polícia indicou que prendeu 14 homens, com idades entre 19 a 44 anos, identificados graças a imagens de câmeras de segurança nas ruas ou graças a testemunhas. A metade desses detidos já tinha passagem pela polícia. No entanto, segundo os investigadores, os trabalhos são complicados: as autoridades alegam que há poucas provas até o momento para que os suspeitos sejam formalmente indiciados. A maioria deles já foi liberada. Ameaça à segurança e liberdade das mulheres A porta-voz da polícia nacional da França, Agathe Foucault, confirmou nesta semana que as convocações nas redes sociais para que mulheres fossem picadas durante a Festa da Música no último sábado existiram. No entanto, para ela, é preciso "relativizar" porque a mobilização para a execução das picadas não foi “massiva”. Enquanto autoridades francesas minimiza a gravidade dos incidentes do último sábado, associações e iniciativas civis pedem o reforço de medidas de prevenção em locais festivos e de grandes aglomerações. “Sendo psicose ou não, o resultado é o mesmo, as pessoas estão assustadas e precisam ser tranquilizadas”, destacou a fundadora do Centro de Agressões por Substâncias da França, Leila Chaouachi, em entrevista à FranceInfo. Segundo a ONG feminista Nous Toutes (Nós Todas), não há dúvidas: o objetivo da criação e da difusão da onda de pânico das agulhas contaminadas tinha como objetivo assustar as mulheres e convencê-las a não saírem de casa. Já a socióloga Louise Gasté, especializada em violências sexuais e sexistas em meios festivos, afirmou à rádio FranceInfo que os agressores pretendem mostrar que “os espaços exteriores”, são perigosos às mulheres. “O ato de se liberar durante a festa é marcado por um reforço das normas de gênero com homens que, para impressionar seus amigos, se lançam em desafios, em caçadas”, observa. Contas de feministas e de organizações de defesa dos direitos das mulheres compartilharam alertas no último fim de semana. Uma publicação do perfil feminista Abregesoeur, junto com o The Sorority - um aplicativo destinado às mulheres para emitir pedidos de socorro - recomendando como agir em caso de agulhada, teve recorde de likes e compartilhamentos. Fenômeno das agulhadas é antigo Na França, há registros de agressões com agulhas desde o século 19. Em 1819, cerca de 400 francesas denunciaram às autoridades terem sido alvo de picadas no país. O fenômeno atravessou séculos: em 1982, 63 mulheres registraram queixa na polícia por terem levado agulhadas em Paris. A partir do início dos anos 2020, casos de picadas com seringas também foram registrados no Reino Unido e na Irlanda, a maioria deles nesses grandes festivais de música. A Alemanha e a Bélgica também tiveram relatos similares nesse mesmo período. O modus operandi de toda essa onda de ataques recentes com seringas nos anos 2020 na Europa é o mesmo. As picadas têm como alvo jovens do sexo feminino e ocorrem em eventos festivos com grandes aglomerações. A França já havia contabilizado 771 denúncias de agulhadas apenas na Festa da Música de 2022, segundo dados do Departamento de Medicina Legal de Paris. Um estudo publicado em 2024 no Journal of Forensic and Legal Medicine (Revista de Medicina Legal e Forense), analisou 171 agulhadas registradas na França em 2022. Segundo os autores da pesquisa, quase 82% das vítimas das picadas foram mulheres. Eles destacam que entre esses casos estudados não houve intoxicação e não há evidências de agressão sexual por parte dos ...
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  • Pobreza menstrual atinge 42% das mulheres europeias, diz estudo
    May 30 2025

    Cerca de 500 milhões de meninas, adolescentes e mulheres são atingidas pela pobreza menstrual em todo mundo. Nos países da União Europeia, 50 milhões de pessoas que menstruam utilizam produtos inadequados durante o ciclo. É o que mostra um estudo divulgado nesta semana por ocasião do do Dia Internacional da Dignidade Menstrual, 28 de maio.

    Daniella Franco, da RFI

    Pouco debatida, mas considerada um problema de saúde pública pela ONU, a pobreza menstrual começou a ser evocada nos anos 2010. Graças ao trabalho da ONG Wash United, baseada na Alemanha, em 2014 foi estabelecido o Dia Internacional da Dignidade Menstrual, reconhecido atualmente em cerca de 50 países.

    Além da falta de acesso a produtos, a pobreza menstrual engloba problemas mais amplos: a falta de insfraestrutura sanitária adequada e a falta de informações sobre saúde da mulher. Embora em diferentes proporções no mundo, o problema atinge pessoas em situações vulneráveis: periféricas, sem-teto, migrantes, pessoas trans, trabalhadoras do sexo, detentas e mulheres com deficiência.

    A associação francesa Regras Elementares, que a cada 28 de maio encomenda pesquisas do instituto Opinion Way, divulgou nesta semana o primeiro estudo sobre pobreza menstrual na União Europeia. Segundo o balanço, 42% das mulheres do bloco acima dos 18 anos e em idade reprodutiva afirmam ter enfrentado dificuldades nos últimos 12 meses para comprar produtos de higiene menstrual.

    Menstruar custa caro

    No início deste ano, o Parlamento Europeu calculou que a higiene menstrual pode custar até € 27 mil euros (quase R$ 174 mil) ao longo da vida das pessoas que menstruam. Uma resolução, adotada em 2021, incentivou os membros do bloco a reduzir os impostos sobre mercadorias de higiene íntima. “No entanto, essa ação foi prejudicada pela inflação, pois o aumento dos preços compensou a redução fiscal, o que teve impactos na acessibilidade dos produtos”, diz o site da instituição.

    Na falta de produtos para higiene menstrual, meninas, adolescentes e mulheres em situação precária colocam sua saúde em risco, usando produtos além do tempo recomendado ou inadequados. A associação Regras Elementares lista alguns deles: panos, papel higiênico e até jornais.

    “Isso pode ter consequências sanitárias graves”, alerta Maud Leblon, diretora da Regras Elementares, em entrevista à emissora Franceinfo. Segundo ela, a pobreza menstrual atinge pessoas em situação extremamente precária, mas também mães solo ou estudantes “impedindo-as de ir trabalhar ou estudar em boas condições”.

    De fato, o balanço de 2023 da associação mostrou que 53% das adolescentes acima de 15 anos na França já deixaram de ir para a escola por estar menstruada. Para 80% das meninas francesas, menstruar na escola é um fator de estresse.

    Debate na França

    Há dois anos, o balanço anual do OpinionWay sobre a questão mostrou que 53% das pessoas entrevistadas, entre mulheres e homens, não tinham conhecimento sobre o que é a pobreza menstrual. Entre os entrevistados, 57% afirmavam que jamais tiveram nenhum aprendizado formal sobre menstruação. O mesmo número – 57% – também diziam acreditar que essa etapa do ciclo reprodutivo das mulheres continuava sendo tabu na França.

    Em 2023 um projeto de gratuidade de alguns produtos de higiene menstrual entrou no orçamento do ano seguinte da Seguridade Social francesa. No entanto, até o momento, ele não foi implementado.

    Nesta semana, a ministra francesa da Igualdade entre Mulheres e Homens, Aurore Bergé, reconheceu o atraso, classificando a demora de “inaceitável”. O governo se engajou a colocar o projeto em prática “até o final do ano”.

    A promessa é que o sistema de saúde da França reembolsará os gastos com dois tipos de produtos de higiene menstrual: os coletores e as calcinhas absorventes reutilizáveis. A gratuidade valerá para mulheres de até 26 anos e em situação precária. Até o momento, o governo não comunicou as modalidades desse reembolso.

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    17 m
  • Morte de Sebastião Salgado: imprensa francesa homenageia um humanista "gigante da fotografia"
    May 23 2025

    A notícia da morte do fotógrafo franco-brasileiro Sebastião Salgado foi divulgada às 17h20, horário de Paris, pela Academia de Belas Artes francesa, da qual ele fazia parte desde 2017. A imprensa francesa homenageia um "gigante" da fotografia em preto-e-branco, que adotou a França como seu segundo país.

    De acordo com pessoas próximas da família, Sebastião Salgado morreu na manhã desta sexta-feira (23), cercado pela mulher, Lélia Wanick Salgado, e pelos filhos, Juliano e Rodrigo. Ele deixa dois netos, Flávio e Nara.

    Um comunicado publicado pelo estúdio que ele mantinha com Lélia, sua inseparável companheira de vida e de trabalho em Paris, há 50 anos, informou que Salgado faleceu em decorrência de uma leucemia grave, provocada por complicações de uma forma específica da malária que ele contraiu em 2010 na Indonésia, quando trabalhava para o projeto Gênesis.

    Apesar dos 81 anos de idade e dos problemas crônicos de saúde devido à malária, Salgado estava ativo nos últimos dias, dando entrevistas sobre a grande retrospectiva de sua obra que está em cartaz desde o começo de março no centro cultural Les Franciscaines, em Deauville, no norte da França. Até seus últimos dias de vida, ele respondeu a convites para novos trabalhos, do jeito intenso como sempre viveu.

    Salgado também estava animado e orgulhoso com a estreia da exposição do filho Rodrigo Salgado, de 45 anos. Ele sofre de síndrome de Down e apresenta, pela primeira vez, uma combinação de 16 vitrais, 80 pinturas e algumas esculturas que destacam sua expressão artística intensa e poética na mostra "Rodrigo, uma vida de artista".

    Apesar do choque com o falecimento do fotógrafo, a abertura da exposição foi mantida para 27 de maio na antiga igreja do Sacré-Cœur de Reims, agora transformada em um ateliê de artes, a uma hora de Paris. A curadoria foi de Lélia e Sebastião Salgado, que realizou a iluminação da mostra. A família estará presente no vernissage privado da exposição, neste sábado (24) às 15h, onde também será prestada uma homenagem ao fotógrafo.

    Homenagens da imprensa francesa

    Os jornais franceses destacam o imenso legado do brasileiro. Le Monde enfatiza a trajetória de Salgado como um fotógrafo que capturou a condição humana e os desafios ambientais. O jornal relembrou sua dedicação à Amazônia e seu impacto na conscientização global sobre questões sociais e ecológicas.

    Libération destaca sua abordagem única para o fotojornalismo e sua capacidade de transformar imagens em narrativas poderosas sobre desigualdade e sofrimento humano.

    O portal de notícias FranceInfo menciona sua luta contra problemas de saúde nos últimos anos e sua contribuição para a arte e o ativismo ambiental. O portal ressalta a influência duradoura de Salgado na fotografia documental.

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    11 m
  • Governo francês anuncia medidas para proteger setor das criptomoedas após tentativa de sequestro em Paris
    May 16 2025

    As imagens chocaram a França e viralizaram no mundo inteiro: uma violenta tentativa de sequestro à luz do dia em uma rua de Paris, gravada por moradores. Três dias após o incidente que envolveu a filha de um pioneiro do setor das criptomoedas, o governo francês anunciou uma série de medidas para tentar conter um tipo de crime que vem se repetindo no país.

    “Me larguem!”, grita uma mulher caída em uma calçada, enquanto dois homens encapuzados tentam arrastá-la para dentro de uma van. Agarrado a ela, o marido, com o rosto ensanguentado, tenta segurá-la e é agredido por um terceiro homem. A mulher consegue pegar a arma de um dos encapuzados e jogá-la para um pedestre que se aproxima, enquanto um morador sai de um prédio segurando um extintor de incêndio e ameaça o grupo. Assustado, o trio embarca na van e foge.

    A cena poderia constar de um filme policial, mas aconteceu por volta das 8h da manhã de terça-feira (13), no 11° distrito de Paris. Os registros, feitos por dois moradores do alto de dois prédios da rua Pache, mostram uma situação incomum no local, um bairro calmo e seguro ao leste da capital francesa.

    Desde o início deste ano, esse é o quarto incidente deste tipo, visando empresários do setor das criptomoedas ou familiares. O modus operandi é o mesmo: sequestro seguido de extorsão.

    O último caso antes do violento incidente nesta semana em Paris, ocorreu no início deste mês, quando o pai de um proprietário de uma sociedade que gerencia criptomoedas foi sequestrado no 14° distrito de Paris, outro bairro seguro da capital francesa. A vítima teve um dedo mutilado, na tentativa de extorsão de uma quantia entre € 5 milhões e € 7 milhões. A polícia descobriu o paradeiro do refém e o resgatou. Cinco homens, com idades entre 27 e 20 anos, foram presos.

    Antes desses dois casos, outros três sequestros já haviam sido registrados, também visando personalidades do universo financeiro virtual na França. Em janeiro, o cofundador da empresa Ledger, David Balland, e sua companheira foram feitos de reféns no centro do país contra um pedido de resgate de € 10 milhões em bitcoins. Dez pessoas foram detidas.

    Alguns dias mais tarde, no leste da França, quatro pessoas foram detidas por sequestro de um operador de criptomoedas exigindo uma grande quantidade de dinheiro. Ainda em janeiro, o pai de um influenciador de moedas virtuais baseado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, foi encontrado no porta-malas de um carro em Mans, no oeste.

    Pai de vítima denuncia “mexicanização” da França

    A vítima da tentativa de sequestro na terça-feira em Paris não teve sua identidade divulgada. A polícia francesa apenas indicou que ela tem 34 anos e está grávida de cinco meses. O filho de dois anos do casal teria presenciado as violências, mas ele não aparece nos vídeos feitos pelos moradores.

    A mulher é filha de um pioneiro do setor das criptomoedas na França, Pierre Noizat, de 59 anos, diretor da empresa Paymium. Em entrevista ao canal BFMTV nesta sexta-feira (16), ele informou que a filha e o marido passam bem.

    Noizat também fez uma série de críticas ao governo francês, que segundo ele, não protege suficientemente “as empresas e os ricos”. De acordo com o empresário, a França está em um processo de “mexicanização”, afirmou, referindo-se ao crime organizado no México.

    "Estamos mergulhados nisso, a violência da qual minha filha foi vítima é cotidiana para muitas pessoas na França", lamentou. Noizat também acusou os poderes públicos de laxismo, uma situação que, segundo ele "coloca todos em perigo".

    Governo francês anuncia medidas

    O ministro francês do Interior, Bruno Retailleau, se reuniu nesta sexta-feira com os grandes empresários do setor das criptomoedas na França, entre eles, Pierre Noizat, e prometeu que seriam tomadas medidas para proteger as empresas do ramo e que os responsáveis pelas ações criminosas serão encontrados e serão punidos.

    Logo depois, um comunicado do Ministério do Interior detalhou algumas iniciativas, como uma colaboração entre as forças de segurança e profissionais do setor. Esses empresários também terão um acesso prioritário no acionamento da polícia.

    Além disso, agentes do Estado inspecionarão as residências de dirigentes do ramo das criptomoedas para conferir a segurança das moradias. Os profissionais do setor, além das famílias, serão instruídos sobre como se proteger desse tipo de crime.

    O Ministério do Interior da França ainda promete um trabalho “aprofundado” com o setor das criptomoedas para criação de novas medidas de dissuasão a esse tipo de crime.

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    12 m
  • Com ancestrais na França, Leão XIV já é considerado 'o mais francês dos papas estrangeiros'
    May 9 2025
    A maioria dos católicos franceses, praticantes ou não, ficou agradavelmente surpresa com a escolha do americano Robert Francis Prevost para comandar a Igreja neste momento de guerras ao redor do mundo e incertezas sobre o futuro. Devido ao sobrenome de origem francesa, o papa Leão XIV está sendo considerado por genealogistas "o mais francês dos papas estrangeiros". O perfil multicultural do novo chefe da Igreja Católica, nascido em Chicago (EUA), de mãe espanhola, pai franco-italiano, e ainda moldado pela longa experiência missionária no Peru – e nacionalidade peruana –, foi acolhido com otimismo. Reportagens realizadas nesta quarta-feira (9) em igrejas e escolas católicas, em várias cidades francesas, mostram que a maneira como ele se apresentou ao público, no Vaticano, agradou.O novo líder dos católicos apareceu no balcão central da Basílica de São Pedro com uma fisionomia serena, sorridente, mas ao mesmo tempo visivelmente emocionado. Já na primeira frase, ele falou de paz, gerando muita empatia com o público. Os franceses gostaram de ouvir que ele irá atuar para "construir pontes" de diálogo, em busca de "justiça e paz". Nesta quarta, Leão XIV celebrou a primeira missa de seu pontificado, apenas para os cardeais que o elegeram. Na homilia, ele lamentou o "declínio da fé", preterida em favor de "outras seguranças, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer". Para os praticantes que seguem o evangelho, acreditam na fraternidade e rejeitam o individualismo, esse discurso faz sentido. O jornal católico La Croix, bastante respeitado no país, afirmou em seu editorial que ao levar esse religioso americano de 69 anos para a chefia da Santa Sé, "os cardeais confirmaram a escolha de uma Igreja aberta, multicultural, globalizada e mais do que nunca comprometida com sua doutrina social", em continuidade à abertura iniciada pelo papa Francisco. A maioria dos católicos franceses quer que o pontífice americano continue trabalhando nessa direção. Ancestrais francesesPrevost é um sobrenome de origem francesa bastante comum. Com isso, o papa Leão XIV está sendo considerado "o mais francês dos papas estrangeiros". Desde ontem, genealogistas começaram a pesquisar os ancentrais do novo chefe da Igreja e acharam muitas informações. Apesar dele ter nascido nos Estados Unidos e do avô paterno ter origem italiana, a maior parte da família da avó paterna vem do noroeste da França, principalmente da Normandia. Segundo o genealogista Jean-Louis Bocarneau, que disse ter passado cinco horas na última madrugada pesquisando a árvore genealógica de Leão XIV, o papa tem ancestrais pelo lado materno que foram sapateiros em Nova Orléans, mas provenientes do oeste da França. Existe ainda uma ramificação da família em Marselha, no sul, e parentesco com alguns famosos. Leão XIV seria um primo distante da atriz Catherine Deneuve e do escritor Albert Camus. Desafios do pontificadoEspecialistas no Vaticano e católicos dizem que um dos maiores desafios de Leão XIV será a unificação da Igreja, impactada pelas divisões internas entre ultraconservadores, conservadores e progressistas. A polarização aumentou durante o pontificado de Francisco, e Leão XIV precisará encontrar maneiras de promover a unidade sem abandonar o legado de abertura do papa argentino.O La Croix traz uma lista de 12 trabalhos do papa Leão XIV, como se fossem os 12 trabalhos de Hércules, que envolvem, entre outros questionamentos, o lugar de mulheres e laicos na Igreja, uma abertura iniciada por Francisco em cargos administrativos, mas considerada insuficiente. Questões de ética sexual e familiar, como o acolhimento de famílias homoafetivas na Igreja e o enfrentamento dos escândalos de abusos sexuais, continuam muito sensíveis.Leão XIV precisará se posicionar sobre questões globais, como as mudanças climáticas, guerras, migrações e a pobreza extrema. Reafirmar os laços entre o Cristianismo e o Judaísmo, mantendo um posicionamento equilibrado sobre o conflito na Faixa de Gaza. Como pontífice americano, Leão XIV terá de ser cuidadoso com o presidente Donald Trump e com seu vice JD Vance, que ele criticou publicamente nas redes sociais antes de ser eleito. Outro dossiê urgente é sanear a crise financeira no Vaticano, que teria registrado um déficit de € 87 milhões (€ 554 milhões) no ano passado, segundo estimativas não oficiais. As receitas estão em queda há vários anos e existe um problema crônico de má gestão na Santa Sé, que o papa Francisco começou a tratar, mas não resolveu totalmente.
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    11 m
  • Estudo: 15% dos franceses já testaram relacionamentos abertos, número em constante progressão
    May 2 2025
    Os franceses e francesas estão cada vez mais adeptos aos relacionamentos abertos. A quantidade de casais que adotam esse modo de se relacionar ou dispostos a esse tipo de experiência vem aumentando no país, enquanto as identidades sexuais também evoluem. Daniella Franco, da RFI em ParisSegundo uma pesquisa do Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop) para o aplicativo de encontros extraconjugais Gleeden, as relações “alternativas” vêm atraindo cada vez mais adeptos no país. Embora a monogamia seja majoritária (65%), 8% das pessoas entrevistadas afirmam estar atualmente em um relacionamento aberto.Em 2017, apenas 1% dos franceses afirmava seguir essa tendência, o que mostra um aumento de 7% em relação a 2025. Além disso, 15% das pessoas entrevistadas pelo Ifop afirmam que já estiveram em um relacionamento aberto.O número é ainda maior quando o balanço se concentra nos parisienses. Na capital francesa, 17% dos homens e mulheres acima dos 18 anos afirmam estar em um relacionamento aberto atualmente. Mas 23% das pessoas entrevistadas e que vivem em Paris dizem que já fizeram parte de um casal poligâmico em algum momento da vida.Para o diretor do pólo Gênero, Sexualidades e Saúde Sexual do Ifop, François Kraus, a discrepância entre Paris e o resto da França não é surpreendente. “O casal livre é algo mais valorizado socialmente nos meios progressistas”, analisa o responsável pela pesquisa, François Kraus, em entrevista ao jornal Libération.De fato, a capital francesa, administrada por uma mulher, a prefeita Anne Hidalgo, do Partido Socialista, vota tradicionalmente em partidos progressistas e de esquerda. O posicionamento político, aliás, é uma característica relevante para os adeptos do relacionamento aberto. A maior porcentagem dos parisienses que já estiveram em um casal poligâmico é registrada entre simpatizantes do partido da esquerda radical França Insubmissa (32%).Jovens e gays: perfil dos adeptos aos relacionamentos abertosO estudo do Ifop confirma o que outras pesquisas já vêm mostrando nos últimos tempos sobre a sexualidade da população francesa. Os adeptos dos relacionamentos abertos são principalmente adultos jovens, na faixa dos 25 aos 34 anos (23%).Além disso, quase a metade dos casais não-monogâmicos hoje na França é formado por homens gays e bissexuais (47%), seguidos por lésbicas e mulheres bissexuais (25%). Entre os heterossexuais adeptos aos relacionamentos abertos, 17% são homens e 9% mulheres.Essa escolha de vida também tem um forte marcador de classe social. Os relacionamentos abertos são vividos majoritariamente por pessoas com diploma de estudos superiores (20%) e por cidadãos que exercem profissões consideradas “intelectuais” na França (23%), como médicos, advogados, engenheiros, arquitetos, jornalistas, artistas, professores de universidade, etc.No que diz respeito à tendência política de quem rejeita a norma monogâmica, 26% vota no partido da esquerda radical França Insubmissa, 15% no Renascimento, partido centrista, do presidente Emmanuel Macron, 14% no partido socialista (esquerda mais tradicional), 12% nos ecologistas. Mas pessoas de posicionamento conservador também são adeptos de relacionamentos abertos: 11% votam no Partido Republicano (direita) e 15% no partido de extrema direita Reunião Nacional, segundo a pesquisa do Ifop.Me Too e casamento para todosO diretor do pólo Gênero, Sexualidades e Saúde Sexual do Ifop, François Kraus, avalia que os relacionamentos abertos são uma tendência que “se instala lentamente como uma alternativa a casais monogâmicos e heterossexuais tradicionais”. Segundo o especialista, o movimento Me Too, que surgiu em 2017 questionando a cultura do estupro, colocou em questão as normas conjugais tradicionais.Junto com o casamento para todos, legalizado em 2013 na França, a mobilização feminista também é apontada como a principal responsável pela evolução das identidades sexuais na França. Um outro estudo, divulgado nesta semana, do Instituto Nacional de Estudo Demográficos da França (Ined), mostra que a rejeição à heterossexualidade vem aumentando no país.A mudança é liderada por jovens, principalmente mulheres. Atualmente quase 20% das francesas entre 18 e 29 anos não se considera heterossexual: 10% são bissexuais, 5% panssexuais, 2% lésbicas e outros 2% são assexuais ou não sabe definir. Em 2015, apenas 3% das mulheres não se considerava heterossexual.Entre os homens, a tendência também é observada, mas em uma escala menor. No total, 8% dos franceses que rejeitam a heteronormatividade, 4% bissexuais, 3% homossexuais, 1% assexual ou não sabe definir. Em 2015, eles eram 2%.Segundo o diretor de pesquisa do Ined, Wilfried Rault, a heterossexualidade está "menos atraente" para uma parte dos jovens da França. Segundo ele, outros debates na sociedade, como a conscientização sobre a desigualdade de gêneros nas tarefas domésticas, ...
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