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  • Justiça francesa estende prisão preventiva de ex-pastor brasileiro acusado de pedofilia; julgamento será em novembro
    Jul 11 2025
    Em audiência no tribunal de Chamberry, na região da Alta Sabóia, nos Alpes franceses, em 3 de julho, a Justiça rejeitou o pedido de liberdade condicional apresentado por Edi Maikel dos Santos Silva, estendendo a sua prisão por mais seis meses. Na prática, conforme demanda do Ministério Público francês, o ex-pastor brasileiro, acusado de seis crimes sexuais contra menores de idade na França, ficará preso até o julgamento, marcado para novembro deste ano. Maria Paula Carvalho, de Paris Natural de Belém do Pará, Edi Maikel dos Santos Silva, de 37 anos, está preso preventivamente por decisão do Tribunal de Annecy, no sudeste do país, desde maio de 2022. Sua detenção foi prorrogada quatro vezes, enquanto responde por três estupros e três agressões sexuais contra menores. Em três desses casos, o acusado tinha autoridade sobre a vítima, o que pode acentuar a pena, em caso de condenação. A RFI acompanha o processo em que pelo menos oito vítimas prestaram queixa à Justiça e relataram ter sido agredidas por Edi Maikel ao longo dos últimos 20 anos. Fabrício Cordeiro Brasil foi quem denunciou o ex-cunhado, após descobrir que duas de suas filhas haviam sido molestadas pelo ex-pastor. "Eu sinceramente estou um pouco aliviado, porque já há uma data fixada para o julgamento. Porém, sinto também uma pequena apreensão, porque não se sabe o que os juízes decidirão", disse em entrevista à RFI. "O ideal seria que ele pegasse cadeia mesmo. Pena máxima para ele pagar por tudo o que cometeu no território francês, tanto na Guiana [Francesa] quanto aqui na França", desabafou Cordeiro ao ser questionado sobre sua expectativa para o julgamento. "Mas também iremos insistir para que ele seja julgado no Brasil, porque lá ele também deixou vítimas. Espero que Justiça seja feita e que seja bem pesada para ele", completa. Um trauma para as vítimas Duas sobrinhas e a enteada de Edi Maikel estão entre as vítimas e todas eram menores de 15 anos no momento dos fatos. De acordo com os depoimentos à Justiça, aos quais a RFI teve acesso, o ex-pastor é acusado de tocar partes íntimas das meninas, de ter esfregado o pênis contra as nádegas e a vagina delas, acariciado o ânus e, em certos, casos, com penetração. Camilla Araújo de Souza é sobrinha de Edi Maikel, o que não impediu os abusos. Hoje, aos 28 anos, ela lembra das primeiras agressões. "Minha mãe surpreendeu a gente, ele tentando esfregar o pênis dele no meu bumbum", disse à reportagem da RFI. "As penetrações do pênis dentro da vagina começaram quando eu tinha 12 ou 13 anos. E sempre que não tinha alguém por perto, ele tentava algo. Me chantageava (dizendo) que ia se matar se eu não fizesse tal coisa", acrescenta. A RFI também ouviu as irmãs Kissia e Victoria Cordeiro, filhas do denunciante Fabrício Cordeiro, e citadas no processo. "Eu era pequena, tinha cinco ou seis anos, morava na Guiana Francesa", contou Kissia. "Nessa época, o meu tio Edi Maikel morou com a gente em um estúdio e ele dormia na mesma cama que eu. Todas as noites, eu me acordava com a mão dele na minha calcinha", revela. A irmã Victoria Cordeiro também diz ter sido abusada pelo tio. Foi em 2009, quando a família passava uma temporada no Brasil. Na época, a menina tinha quatro anos. Mas somente aos 17, a jovem tomou coragem para falar sobre o assunto. "Enquanto os outros dormiam, eu fui ao banheiro e Edi Maikel me seguiu. Eu pedi a ele para me ajudar, ele pediu que eu me virasse de costas e começou a me tocar de forma estranha nas partes íntimas. Foi desagradável, mas aos 4 anos, eu não sabia o que acontecia. Ele não parou, fazia coisas atrás de mim, apesar de eu chorar. Quando ele terminou, mandou eu me calar e me deu um pirulito para eu me conter", diz. O brasileiro, que chegou a atuar como pastor na França, pode pegar até 20 anos de prisão, já que a legislação do país prevê penas mais duras quando há agressão de membros da própria família. Elas eram crianças na época dos fatos e seus depoimentos serão fundamentais para uma possível condenação, segundo a advogada das vítimas. A RFI também entrevistou uma testemunha do caso, que prefere manter o anonimato. Ela era amiga da família e conta que também foi agredida por Edi Maikel. "Ele foi violento, me empurrou na parede e foi me agarrando, passando a mão em mim, nos meus seios e querendo me beijar", relata. "A prima dele que estava em casa ouviu a porrada na parede. Ela veio e começou a pedir para ele me largar. Foi quando ele meteu a mão na minha boca para eu não gritar e dizia que não ia me largar", conta. Hoje com 32 anos e mãe de um casal de filhos, ela espera que ele responda por seus atos. "Ele deve pagar porque deixou sequelas na vida das meninas e não só delas, pois cheguei a me sentir culpada", lembra. "É muito doloroso viver com isso. Eu fico me perguntando como as meninas viveram sem poder falar sobre isso durante ...
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  • 25ª edição do Carnaval Tropical de Paris celebra a Amazônia e o Brasil na Champs-Élysées
    Jul 6 2025

    Há mais de duas décadas colorindo as ruas da capital francesa, o Carnaval Tropical de Paris voltou a encantar o público neste domingo (6), com um desfile vibrante na icônica Avenida Champs-Élysées. O tema deste ano foi Amazônias, trazendo ao público presente a diversidade cultural que engloba a floresta e a urgência das questões ambientais, em plena temporada de verão europeu.

    Luiza Ramos, de Paris

    Cerca de 20 grupos participaram do tradicional concurso carnavalesco, inspirado nos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro e São Paulo. Comunidades das Antilhas, Guiana Francesa, América Latina e Caribe se uniram para celebrar a mistura de culturas e reafirmar a importância da preservação ambiental.

    A escolha do tema também destaca o papel da Guiana Francesa, território ultramarino francês que compartilha com o Brasil uma vasta área de floresta amazônica. Segundo Joby Garnier, diretor do Carnaval Tropical, a proposta é unir festa e consciência:

    “Há 25 anos começamos esse carnaval em Paris com o apoio da prefeita e de muitos amigos. Hoje, celebramos o Ano do Brasil na França diante do Grand Palais e do Petit Palais. A Amazônia é a Guiana, é o Brasil, é tudo isso. Queremos que todas as diásporas participem. Chamamos de carnaval tropical porque é de todos os trópicos — e os parisienses também devem fazer parte disso”, disse

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    Além da celebração, Garnier reforça o papel educativo do evento: “Vivemos em um mundo que precisa falar de ecologia. Não podemos oferecer nada sem conscientizar sobre o planeta. Já desperdiçamos tudo o que podíamos e agora precisamos consertar. Esse planeta nos pertence. São pequenos gestos coletivos como a escolha dos figurinos e a abordagem do aquecimento global que fazem a diferença. Fazer carnaval não significa ignorar os problemas. É um problema de todos nós”, afirma o diretor.

    Nesse contexto, os grupos carnavalescos optaram por materiais sintéticos e reutilizáveis na confecção das fantasias, como explicou o carnavalesco Marcelo Oliveira, da escola de carnaval G.R.E.S Azulinha, a segunda a desfilar na avenida.

    "Eu venho do Rio de Janeiro todos os anos desde 2022 para trazer nossa cultura nesta grande avenida Champs-Élysées, na cidade de Paris. A gente está usando muitas penas artificiais, para proteção dos animais, o que a gente chama de penas fakes", destacou o artista.

    Apesar da chuva fina e dos 18 °C, centenas de espectadores de todas as idades e origens compareceram para prestigiar o espetáculo. Ao longo de três quilômetros e quase cinco horas de desfile, a Champs-Élysées se transformou em um palco tropical, com dançarinos caribenhos, passistas brasileiras e muita música.

    Entre os presentes, a marfinense Beatrice Ceri, moradora de Paris há mais de 30 anos, compartilhou seu entusiasmo: “É meu quarto ano acompanhando o desfile. A atmosfera é sempre maravilhosa. A cada edição, há algo novo para descobrir. Eu adoro conhecer novas culturas — e, claro, gostaria muito de conhecer mais da cultura brasileira!”.

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  • Ano do Brasil na França: ritmos e danças invadem o Grand Palais, no coração de Paris
    Jul 6 2025

    No último sábado (5), o Brasil foi tema de um grande baile em um dos lugares mais famosos de Paris. O samba, a capoeira e outros elementos da cultura brasileira tomaram conta do Grand Palais em mais uma ação do ano do Brasil na França.

    Sucesso desde que foi anunciado há algumas semanas, com ingressos gratuitos esgotados em poucos minutos após serem disponibilizados, o Grande Baile do Grand Palais não decepcionou os brasileiros que moram em Paris e muito menos os franceses e estrangeiros, que acompanharam fascinados as músicas, as danças e as fantasias que desfilaram sob a cúpula de vidro desse icônico monumento francês.

    “Está incrível esse carnaval no Grand Palais! O lugar é lindo, eu nunca tinha vindo e está todo mundo muito animado”, comentou a brasileira Aline Portugal.

    Já a pesquisadora russa Gulnara Zakharova contou que foi ao evento convidada por uma amiga brasileira e que se surpreendeu com a diversidade, bem como com os significados dos símbolos e fantasias da cultura das diversas regiões do Brasil. Ela elogiou ainda a beleza e a riqueza dos figurinos.

    “Eu adorei! Foi uma colega que me fez descobrir esse evento e eu realmente adorei o ambiente, a diversão total. Eu fiz uma maquiagem e eu adorei as músicas, as danças e as fantasias. É incrível! Paris é realmente um lugar que reúne todas as culturas e é muito bom poder participar de eventos como esse. Além disso, como russa, há muitas coisas em comum entre os dois países, até mesmo na música, no estilo, na maneira de festejar. Aqui eu me sinto em casa”, contou ela.

    Axé, frevo, samba e voguing

    Com apresentações de música e dança, com axé, frevo, samba, capoeira e até mesmo o voguing, o evento entregou uma grande mistura das representações culturais do país. A cantora Carla Visi, que levou ao Grand Palais os sucessos da banda baiana Cheiro de Amor e participou pela primeira vez da temporada do Brasil na França, falou sobre a oportunidade de trazer o axé para a capital francesa.

    “É uma felicidade imensa. A gente que trabalha cantando e levando a cultura de nosso país e principalmente da Bahia pelo mundo, quando a gente tem a oportunidade de celebrar essa cultura com tantos artistas, com performances maravilhosas e num espaço como esse, é muito emocionante”, disse.

    O grande baile do Grand Palais teve ainda shows de artistas como Puma Camillê, Karla Silva e Jorge Aragão, que se apresentaram para um público de cerca de duas mil pessoas.

    Trazendo uma mistura da capoeira de roda com a cultura do ballroom, Puma Camillê apresentou ancestralidade e voguing, numa performance ao som do berimbau que encantou e surpreendeu a plateia.

    “É muito importante que nossos corpos, pretos, trans, façam esse caminho para representar o Brasil com essa dimensão e essa grandeza, falando de ancestralidade, falando de tradição, de cultura negra e originária, na França, junto com o carnaval. E hoje, pela primeira vez na história, foram transportadas mais de 160 peças do carnaval do Brasil para cá para serem usadas (por membros) do Capoeira para Todes (projeto que reúne pessoas LGBTQIAP+ em um movimento de cultura popular e de resistência) representando o Brasil. Estamos muito honrados e muito felizes”, contou.

    Puma Camillê falou ainda sobre o fato de revolucionar as culturas ao unir dois movimentos bastante tradicionalistas e diferenciados, que são a roda de capoeira e a dança voguing. Perguntada se sofreu preconceito por misturar essas comunidades, ela disse que ainda sofre.

    “Eu não vou dizer que esse movimento quebra muros, mas ele cria pontes que conectam o tradicional da capoeira, desde os capoeiristas indígenas, pretos a pajés, Griots e Ialorixás a pessoas LGBT para além da dança. As figuras que normalmente são mandadas para fora de casa por essas com as quais estamos juntando (na capoeira)”, destacou.

    Confira mais algumas imagens do Grande Baile Brasileiro do Grand Palais.

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  • Expo Favela 2025 leva inovações das periferias ao coração de Paris
    Jul 4 2025
    Começou nesta sexta-feira (4) em Paris, a Expo Favela Innovation 2025. Mais do que uma feira de negócios, o encontro organizado pela Cufa, a Central Única das Favelas, visa promover a igualdade através do poder criativo encontrado em bairros populares, reunindo empreendedores, investidores, artistas e instituições. Maria Paula Carvalho, de Paris Durante dois dias, o Teatro de la Concorde, no coração da capital francesa, é o ponto de encontro para novos empreendedores e investidores que buscam bons projetos para apoiar, numa troca entre representantes do mundo empresarial, da sociedade civil e do poder público para debates as boas ideias nascidas em espaços de desvantagem social e econômica. Localizado na parte baixa da famosa avenida do Champs-Élysées, a escolha do teatro foi simbólica, explica Karina Tavares, a organizadora. "No Brasil, a Expo Favela acontece sempre no centro, porque sabemos que as periferias são territórios de serviços e o pessoal do centro não vai para a periferia. Portanto, quisermos valorizar e colocar holofote nessas pessoas, nas criações, nos milagres periféricos, a gente tem de fazer isso no centro", diz. A programação é formada por mesas-redondas, workshops, concertos, encontros literários e sessões de cinema. No jardim e no hall do teatro, os empreendedores ocupam estandes onde mostram suas inovações nas áreas de tecnologia, arte, gastronomia e bioeconomia. Tatiane Moraes vive na favela da Tinga, na periferia de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Ela trouxe à França, país conhecido pela perfumaria, o seu o projeto de fabricação de sabão artesanal. "Junto com o sabão, vem toda a questão de educação ambiental, pois um litro de óleo descartado de forma incorreta contamina 20 mil litros de água, pois o óleo impede a absorção da água no solo", explica. "Nós estamos passando por um momento difícil no Rio Grande do Sul referente às mudanças do clima, então, trouxemos essa pauta tão importante", destaca. Iniciativa carioca Nascida no Rio de Janeiro, a Central Única das Favelas está presente em 68 países, dando visibilidade e conectando comunidades, promovendo soluções e transformações sociais em escala global, há mais de 25 anos. Uma história de sucesso, replicada pela segunda vez em Paris. "A nossa ideia não é comemorar a existência de favelas, mas que a gente possa comemorar o fato de que, apesar das dificuldades, essas pessoas têm sido bastante resilientes e têm se desenvolvido", observa Celso Athayde, o fundador da Cufa. "A sociedade, de um modo geral, se encontra. Os ricos se encontram no Fórum Econômico mundial, os cientistas se encontram, os médicos se encontram e é importante que as favelas se encontrem, nas mais diversas atividades, inclusive no empreendedorismo", afirma. "Então, criar uma feira como essa no Brasil e depois levar essa feira para todo o mundo e começar pela França tem um papel muito importante, porque mostra que se os problemas são globais, as soluções também podem ser", analisa. Negócios da periferia Favela é potência, como atesta o grande número de pequenos empreendedores e presentes em Paris, como a Casa do Axé, da Paraíba. "Eu estou na Expo Favela representando o meu negócio, que é a Casa do Axé, que faz uma moda com influência afro para pessoas de terreiro e para além do terreiro", diz Erika Santos. Para ela, se apresentar no país da moda, ao lado de expositores internacionais, é uma grande conquista. "É um marco na minha história, poder ultrapassar fronteiras do meu país para apresentar o meu trabalho", diz. Maria das Neves, da cidade do Conde, também na Paraíba, veio contar a sua história de superação. "Eu vim de um assentamento, onde iniciei uma história com apenas R$ 50 emprestados e com dois tipos de doces, feitos por duas mulheres pretas, analfabetas", diz. "Hoje, tenho o primeiro shopping rural do mundo. E para mim é um prazer estar aqui em Paris, participando da Expo Favela, pois é uma oportunidade única nas nossas vidas. Quando a gente passa a criar a nossa história, a sonhar e ser determinada, a gente tem certeza que vai muito longe", comemora. Kalyne Lima, presidente da Cufa no Brasil, fala sobre a importância de reunir empreendedores e possíveis financiadores desses projetos."Para os empreendedores, vir a Paris é um objetivo alcançado, muitas vezes inimaginável para eles", afirma. "Sair do Brasil, fazer uma viagem internacional, poder encontrar outros empreendedores de países dos quais eles desconhecem a realidade e a cultura, e compreender que há muitas coisas em comum, é um crescimento, um aprendizado e uma autoafirmação", aponta. 8% dos brasileiros vivem em favelas Convidado do evento, o ex-ministro de Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes, lembra que 16 milhões de brasileiros vivem atualmente em 12 mil favelas, o que representa 8% da população brasileira. "As favelas são um ...
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  • Recitais em Paris misturam repertório europeu e do Brasil e prestam homenagem a cantoras afro-brasileiras
    Jul 3 2025
    O teatro do Châtelet em Paris acolhe sábado (5) e domingo (6) o fim de semana temático Ancien Brésil – Brésil Nouveau (Antigo Brasil-Brasil Novo), com dois concertos que misturam vozes e músicas antigas e contemporâneas de compositores brasileiros, dentro da temporada França-Brasil 2025. A proposta é fazer o público viajar entre memória e modernidade. A iniciativa é liderada pela orquestra Americantiga, sob a direção musical do maestro curitibano radicado em Portugal, Ricardo Bernardes. No sábado, no concerto Alma Brasileira, a pianista Cristina Ortiz dialoga com Mozart e compositores do Brasil do século 20 como Harry Crowl, João Guilherme Ripper, Camargo Guarnieri e Fructuoso Vianna. No domingo, é a vez dos cantores Bruno de Sá e Luanda Siqueira prestarem homenagem a duas grandes figuras líricas afro-brasileiras no espetáculo Marias do Brasil, que mescla ópera, canção e narrativa visual, com direção de Ligiana Costa. Dois programas muito diferentes entre si, como explicou à RFI Ricardo Bernardes, mas ambos com o objetivo de mostrar a música brasileira na França. Em Alma Brasileira, Cristina Ortiz interpreta Mozart, sua especialidade, e depois compositores contemporâneos brasileiros não muito conhecidos na França. “Um programa mais tradicional, mas muito original ao mesmo tempo”, revela Bernardes.  O segundo programa, “mais desafiador”, mistura música clássica com popular. “A gente tem desde modinhas do século 18 a árias de ópera, a tango brasileiro, a maxixe”, explica o maestro. Misturando composições de Chiquinha Gonzaga e Villa Lobos, entre outros, Marias do Brasil é uma homenagem à Maria Joaquina Lapinha e à Maria d’Apparecida. Esta última morou a maior parte de sua vida em Paris e foi a primeira afro-brasileira e interpretar Carmen, do compositor francês Georges Bizet. “O desafio era criar uma dramaturgia que fizesse um cruzamento entre a vida dessas duas mulheres e que respeitasse, de alguma forma, um pouco o repertório que elas cantaram”, explica a diretora artística Ligiana Costa. “A gente tem um espectro de repertório brasileiro muito amplo, desde a música do século 18, modinhas, áreas de padre José Maurício, música erudita, até Villa Lobos, Waldemar Henrique, Francisco Mignone, chegando até Baden Powell”, explica. “Então, eu e a Sophia Boito, que trabalhou comigo, fomos criando uma espécie de dramaturgia de cruzamento entre essas duas mulheres que têm muito em comum, apesar de tantos séculos que as separam”, conta Ligiana Costa sobre as duas cantoras que fizeram carreira na Europa e foram esquecidas pela história. Ela define o espetáculo como “concerto, poético, documental”. “Porque ele tem forma de um documentário, de certa forma, que apresenta essas duas mulheres, mas de uma forma muito poética e livre também”. O roteiro do espetáculo se baseou no trabalho da jornalista e escritora Mazé Torquato Chotil sobre Maria d’Apparecida e da pesquisadora e especialista em história da música, Rosana Orsini Brescia, sobre Maria Joaquina Lapinha.   A partir dos documentos sobre as duas cantoras, a diretora artística criou textos, narrados pela atriz Camila Pitanga, que fazem parte do espetáculo em forma de peças sonoras. Repertório brasileiro O sopranista (homem que canta com voz de soprano) Bruno de Sá e a soprano Luanda Siqueira dão voz às duas Marias. “Já tive o prazer de fazer desde Mozart, Bellini, até Wagner e outros compositores contemporâneos. Então essa outra possibilidade que se abre dentro do repertório colonial, para mim é um grande desafio”, conta Bruno de Sá, que atualmente vive na Europa e já se apresentou em diversos palcos do continente. Dono de uma voz excepcional, o sopranista diz que pode “contar nos dedos de uma mão” às vezes que teve a “oportunidade de cantar repertório brasileiro de verdade”.  “Porque morando aqui na Europa, (a gente) se concentra mais no repertório italiano e séculos XVII, XVIII e XIX. Então cantar algo em português é sempre um desafio porque minha língua estava acostumada e treinada a cantar em outro idioma. Mas, ao mesmo tempo, voltar para as origens, especialmente neste ano, voltar ao repertório português, repertório brasileiro, tem sido muito significativo”, explica, se referindo aos diversos eventos comemorativos da Temporada do Brasil na França. Em 14 de julho, festa nacional da França, ele vai cantar as Bachianas Brasileiras de Villa Lobos no concerto de Paris. O evento de música clássica, reúne a Orquestra Nacional da França, o coro da Rádio França e solistas internacionais e acontece aos pés da Torre Eiffel, antes da tradicional queima de fogos. Luanda Siqueira concorda que o ano “está sendo maravilhoso”. “Eu participo de vários projetos em torno da música, do repertório brasileiro e também projeto em torno da música em língua ...
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  • Proposta de reforma imigratória em Portugal leva a “corrida” de brasileiros por nacionalidade
    Jun 29 2025
    Anunciado após uma reunião do Conselho de Ministros de Portugal na última segunda-feira (23), um projeto de lei prevê mudanças significativas no processo de obtenção da nacionalidade portuguesa e no reagrupamento familiar — medidas vistas como um retrocesso por organizações da sociedade civil e especialistas. A proposta de reforma traz preocupação às comunidades imigrantes, como a brasileira. Lizzie Nassar, correspondente da RFI Brasil em Lisboa Entre os pontos mais controversos está o aumento do tempo mínimo de residência legal para imigrantes que desejam solicitar a nacionalidade. O prazo passaria de cinco para sete anos no caso de cidadãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), incluindo os brasileiros, e para dez anos no caso de estrangeiros de outros países. Além disso, o governo propôs restringir a concessão de vistos de trabalho apenas a profissionais qualificados e incluir a possibilidade de retirada da nacionalidade portuguesa em casos de crimes graves com sentença judicial. A proposta também altera as regras de reagrupamento familiar, exigindo agora que o pedido seja feito ainda no país de origem e apenas após dois anos de residência legal em Portugal por parte do solicitante. Esclarecimento e corrida pela nacionalidade Após dias de incerteza, o governo português esclareceu ao jornal O Público Brasil, na tarde desta sexta-feira (27), que imigrantes que já tiverem completado cinco anos de residência legal até o dia 18 de junho de 2025 poderão ainda solicitar a nacionalidade com base nas regras atuais. A advogada Marcelle Chimer, que atua com imigração em Lisboa, confirma o aumento repentino na busca por informações e pedidos de naturalização. “Está acontecendo uma verdadeira corrida”, explica. “Estamos aconselhando quem já completou os cinco anos a dar entrada o quanto antes. Apesar do anúncio, a proposta ainda precisa passar pelo Parlamento. Certamente haverá alterações no debate parlamentar, especialmente sobre a retroatividade", adverte. Até o momento, o Parlamento português ainda não definiu uma data para a votação do projeto. O Conselho Nacional para as Migrações e Asilo enviou uma nota à imprensa criticando a ausência de diálogo e pedindo maior participação das comunidades afetadas nas discussões legislativas. Reagrupamento familiar: um obstáculo adicional A nova proposta dificulta consideravelmente o reagrupamento familiar. Atualmente, muitos imigrantes conseguem trazer seus cônjuges ou filhos diretamente após receberem autorização de residência. Com as mudanças, será necessário esperar dois anos e solicitar o visto ainda no país de origem. Francisco Paulo, um trabalhador brasileiro do Ceará, compartilha sua experiência frustrante com o sistema atual. Ele chegou a Portugal há 10 meses com contrato de trabalho e visto legal, mas enfrentou obstáculos inesperados ao tentar trazer a esposa. “Tive que entrar com processo judicial e gastar 800 euros para acelerar o reagrupamento. Ninguém me informou que eu poderia fazer isso ainda no Brasil. Foi uma surpresa amarga”, contou. Representantes da comunidade imigrante e organizações de apoio também criticaram duramente as propostas. Para Cyntia de Paula, vice-presidente da Casa do Brasil de Lisboa e conselheira no Conselho Nacional para as Migrações, as medidas representam um retrocesso sem precedentes. "Essas mudanças ferem inclusive princípios constitucionais portugueses. Impedir o reagrupamento familiar é um ataque ao direito básico de viver em família. Portugal sempre foi referência em políticas migratórias inclusivas, e agora vemos uma proposta que pode gerar mais desigualdade, mais exploração", afirma. Ela aponta que as novas regras podem afetar negativamente o próprio mercado de trabalho português. “Grande parte da força de trabalho nos setores essenciais vem de imigrantes. Dificultar a permanência e o reagrupamento pode prejudicar as empresas, que já enfrentam escassez de mão de obra.” Clima de incerteza Enquanto o Parlamento não define o futuro da proposta, a comunidade imigrante vive entre a ansiedade e o medo. Organizações como a Casa do Brasil têm recebido um volume crescente de pedidos de informação, e muitos imigrantes temem ter que deixar o país ou viver em situação irregular. A advogada Marcelle Chimer recomenda cautela. “É hora de esperar e acompanhar o processo legislativo. Ainda há muito a ser debatido. A versão final da lei pode ser bastante diferente do que foi inicialmente anunciado.” Francisco e sua esposa já cogitam deixar o país, caso o reagrupamento não seja possível. “Não quero viver ilegalmente. Se o processo não avançar, vamos considerar voltar ao Brasil ou tentar outro país europeu.” Leia tambémRemessas de dinheiro enviadas ao Brasil por imigrantes em Portugal batem recorde em 2024
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  • Instalação que usa IA para visualizar o "futuro dos sonhos" estreará no Brasil para a COP30
    Jun 28 2025
    Imaginar o futuro e vê-lo desenhado à sua frente, literalmente. Essa é a proposta da experiência imersiva The Lumisphere, que promete ressignificar a maneira como nos conectamos com o futuro do planeta. O convite é para que o público use o poder da imaginação coletiva e aproveite a tecnologia que existe hoje para criar o mundo que desejamos. Cleide Klock, em Sacramento (Califórnia) para a RFI A instalação estará na praça do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, a partir de 1º de outubro, onde ficará até dezembro, coincidindo com a realização da COP30, a Conferência da ONU sobre a Mudança Climática, sediada este ano em Belém. Antes de embarcar para o Brasil, a RFI visitou a obra com exclusividade em Sacramento, capital da Califórnia, onde foi construída. A instalação, composta por três domos e com cerca de 750m2, foi criada em uma parceria da plataforma interdisciplinar Visions2030 com o estúdio de design Minds Over Matter. Mais do que arte ou tecnologia, a experiência é um ritual coletivo de imaginação: um lembrete de que a criatividade não é luxo, mas necessidade — e que cada pessoa, ao visualizar o futuro que deseja, pode começar a construí-lo. “Queremos democratizar o acesso a conversas sobre o futuro. Acreditamos no superpoder da imaginação humana", explicou a diretora-executiva da Visions2030, Elizabeth Thompson. "Este projeto foi criado para alcançar milhões de pessoas e ajudá-las a liberar sua imaginação, sonhar com o futuro que desejam e, então, conectar-se a recursos, outras pessoas, organizações e projetos onde possam começar a ativar suas ideias para o futuro, se envolver e mudar o nosso mundo". Uma jornada em três atos No Domo 1, os visitantes se reúnem ao redor de uma “fogueira digital”. É o espaço de conexão e acolhimento para entender o presente: uma introdução sensorial à ideia de que, embora o planeta esteja em risco, a humanidade também é capaz de feitos extraordinários. O Domo 2 oferece uma experiência audiovisual imersiva, que “expande a consciência” e estimula a imaginação. A proposta é criar um momento de pausa e contemplação, onde cada pessoa fica deitada em uma cadeira confortável assistindo a projeções coloridas no teto. A partir daí, a proposta entra em um estado de "sonho guiado", usando tecnologia imersiva para cada um descobrir sua própria utopia. No Domo 3, com a ajuda de uma plataforma personalizada de inteligência artificial, os visitantes descrevem suas visões e sonhos de futuro. Em segundos, recebem uma imagem em um telão gerada a partir de suas palavras. Essa imagem é enviada por e-mail, servindo como símbolo pessoal do futuro sonhado. Travis Threlkel, CEO da empresa Minds Over Matter, explica que até a estreia no Rio, novas atualizações serão feitas na parte de tecnologia, já que a cada dia as ferramentas de inteligência artificial se aprimoram. “Temos o que há de mais moderno em projeção a laser em nossas cúpulas para proporcionar ao público uma imersão ambiental de 360º. Ao final da imersão, nossa experiência interativa é impulsionada por análises e gráficos baseados no que há de mais novo em IA. Ela ajuda a gerar a visão de futuro que nossos visitantes estão arquitetando". Brasil: ponto de partida e inspiração A escolha do Brasil como primeira parada da turnê global da Lumisphere não foi casual, conta Carey Lovelace, fundadora da Visions2030. “O Museu do Amanhã compartilha valores fundamentais conosco: imaginação, futuro, sustentabilidade. Desde o primeiro momento, sentimos que essa parceria era natural. O prédio, projetado por Santiago Calatrava, é quase uma escultura do amanhã”, diz Lovelace. A instalação será um dos destaques da programação de uma série de eventos que visa preparar e engajar o público brasileiro para os debates que acontecerão em Belém durante a COP 30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), de 10 a 21 de novembro. “Estamos muito animados em fazer a instalação junto com a COP 30, que pode ser a COP mais importante de todas, considerando tudo o que está acontecendo agora, e também estamos a apenas cinco anos do prazo do plano global de sustentabilidade da ONU (a Agenda 2030) Parece que este é o momento perfeito para estarmos lá e ajudar as pessoas a sonhar, a trazer o sonho para a equação da discussão climática, porque muitas vezes a questão é o medo, uma espécie de raiva, mas precisamos sonhar juntos de verdade", completa Carey. Um convite para sonhar — e agir A proposta da Lumisphere não é apenas simbólica. Ao final da temporada brasileira, espera-se que mais de 100 mil pessoas tenham passado pelos domos e criado suas visões de futuro. Todos os dados, de forma anônima, serão analisados para identificar padrões de esperança, desejo e transformação. Em uma parceria entre a Unesco e o Institute for de Future, de Palo Alto, na Califórnia, será gerado ...
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  • Encontro internacional em Lyon discute cinema feito por descendentes de japoneses no Brasil
    Jun 27 2025
    Pesquisadores do Brasil, França, Estados Unidos e Japão se reuniram - presencialmente ou online - na Escola Normal Superior (ENS), em Lyon, no oeste da França, para discutir durante dois dias (24 e 25 de junho) as perspectivas históricas e estéticas do cinema realizado pela diáspora japonesa no Brasil. Patrícia Moribe, em Lyon As discussões sobre o cinema amarelo no Brasil foram permeadas por questões de preconceito, aculturamento, ancestralidade, pertencimento e construção de identidade. Presencialmente ou online, os participantes apresentaram aspectos históricos e discutiram a identidade nipo-brasileira forjada a partir de culturas e experiências geograficamente opostas. A chegada oficial do primeiro navio de imigrantes japoneses ao porto de Santos foi em 1908. A imigração nipônica foi fruto de um acordo entre os governos do Japão, que tinha em seu território uma crescente população carente, e do Brasil, que buscava alternativas de mão de obra barata após o fim da escravidão em 1888. Essa parte da história foi retratada pelo longa “Gaijin, Os Caminhos da Liberdade”, de Tizuka Yamazaki, prêmio da crítica internacional em Cannes, em 1980. A cineasta Olga Futemma, que coordenou a Cinemateca Brasileira por mais de 30 anos, também tratou dessa temática em seus curtas. O trabalho seminal das duas cineastas foi citado por vários participantes, principalmente na mesa dedicada às mulheres cineastas. Estima-se que dois milhões de japoneses e descendentes vivam no Brasil, representando a maior comunidade de chamados “nikkei” (japoneses) fora do Japão. Fenômeno dekassegui O encontro em Lyon discutiu também o retorno, a partir dos anos 1980, de parte dessa população ao Japão. Na época, o país atravessava um boom econômico e necessitava de mão de obra não qualificada. Uma das exigências do Japão era que o candidato a dekassegui tivesse antepassados japoneses. Esse fenômeno diminuiu nas últimas décadas, mas nunca foi interrompido. Hoje cerca de 200 mil brasileiros e descendentes vivem no Japão. Há imigrantes que ficam no Japão, que voltam para o Brasil, ou que fazem idas e voltas, como retrata o documentário “Bem-Vindos De Novo” (2021), de Marcos Yoshi, exibido no encontro em Lyon. "É um filme a respeito da história da minha família, do meu núcleo familiar, dos meus pais e das minhas irmãs. Meus pais decidiram ir para o Japão como dekasseguis em 1999. E por conta disso a família se separou. Os filhos ficaram no Brasil, meus pais foram para o Japão, a princípio para ficar 3 anos, e acabaram ficando uns 13 anos. E o filme é o retrato dessa experiência. Mas também é o momento em que meus pais voltam para o Brasil e a família se reencontra e a gente precisa lidar com os sentimentosos sentimentos e com as feridas que ficaram de certa forma abertas.” Alienação e solidão Marcos Yoshi, que também é pesquisador, apresentou em uma das mesas de discussão um outro lado da moeda do fenômeno dekassegui. Muitos brasileiros sofrem com a alienação e a solidão no Japão, acabando por desenvolver problemas psiquiátricos. Essa problemática é também tema do novo projeto de documentário de Yoshi, tendo a história de um tio paterno como fio condutor para falar dos dekassegui e as consequências desse retorno. Outro filme exibido no final do primeiro dia de discussões foi “Amarela”, de André Hayato Saito, selecionado pelo festival de Cannes de 2024. O curta trata da jovem Erika, fã de futebol, na época da final da Copa do Mundo de 1998, quando fica dividida entre o seu mundo carregado ainda de forte influência japonesa e a discriminação que sofre no dia a dia. O pesquisador Hugo Katsuo, da Universidade Federal Fluminense, destacou curtas realizados em Curitiba, dando uma outra perspectiva a uma produção geralmente centrada em São Paulo. O franco-japonês Tristan Chiffoleau, pesquisador no Japão, falou sobre o filme “Okinawa-Santos” (2020), que retrata um episódio pouco conhecido da expulsão de japoneses de Santos em 1943, sendo a maioria de origem okinawana, etnia marginalizada no Japão. Já Tomyo Costa Ito, da USP, falou sobre uma descoberta que realizou quando fazia parte do projeto Nitrato, da Cinemateca Brasileira, de arquivamento e preservação de filmes. “É um filme de 1950 em que os melhores nadadores da época, que eram japoneses, vieram para o Brasil e participaram de um tour visitando cidades por São Paulo com comunidades japonesas. O filme também traz esses elementos de uma certa propaganda do desenvolvimento do Estado. Na época, os governantes estavam preocupados em transmitir uma imagem de São Paulo como um o lugar de modernidade e de desenvolvimento dentro do Brasil”. Com estética dos cinejornais da época, o material está montado e narrado, mas, no entanto, não tem créditos, ou seja, ele é virtualmente anônimo. Para descobrir pistas, Ito foi atrás de fontes como jornais da época, mas ...
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