• "O mundo todo já percebeu o enorme perigo que é Trump" - Eurodeputada Catarina Martins

  • Feb 21 2025
  • Length: 9 mins
  • Podcast

"O mundo todo já percebeu o enorme perigo que é Trump" - Eurodeputada Catarina Martins

  • Summary

  • Bem-vindos ao magazine "De Bruxelas para o mundo". Todos os meses convidamos uma personalidade das instituições europeias, um especialista ou uma testemunha privilegiada para descodificar a UE e as relações da Europa com os outros espaços geográficos e políticos do planeta. Nesta edição fazemos um balanço do primeiro mês da nova presidência Trump, falamos do futuro da Ucrânia e do papel que a UE pode ou não desempenhar num eventual processo de paz no país. A nossa convidada é Catarina Martins, eurodeputada e ex-líder do Bloco de Esquerda.Que balanço faz destas primeiras quatro semanas de Donald Trump na Casa Branca ?Acho que o mundo todo já percebeu o enorme perigo que é Donald Trump. Perigo a nível nacional e internacional. A nível nacional chamo a atenção que uma das suas primeiras medidas foi acabar com o programa de saúde de que dependem mais de metade das mulheres norte americanas quando vão dar à luz. Depois acabou por recuar porque até os Estados republicanos precisavam desse apoio mas está aqui desenhado o que pretende fazer. E, neste momento, sabemos que Elon Musk está a aceder às bases de dados de cidadãos privados - a bases do ponto de vista fiscal. Deixou de haver privacidade. Elon Musk não foi eleito para nenhum cargo e está a ter acesso a tudo. Isto é um perigo, uma transformação do regime a acontecer perante os nossos olhos. E depois sabemos o que está a acontecer a nível internacional. Chamo a atenção para dois pontos principais: o primeiro é o facto de Donald Trump achar que pode comprar tudo, ou seja, para Trump tudo tem um preço mas os valores não existem, isso não lhe importa. Acha que pode comprar a Gronelândia, a Palestina e até a Ucrânia. O que Trump está a tentar fazer agora com a Ucrânia é dizer aos ucranianos que ficará com os minerais que a terra deles tem. Não para os continuar a ajudar mas para pagar a ajuda que os Estados Unidos já deram. Isto é uma enorme violência. Ao mesmo tempo acabou com toda a possibilidade de cooperação a nível internacional. Quando saem do Acordo de Paris e da OMS, ou acabam com o programa para o desenvolvimento que os Estados Unidos tinham, há aqui uma reconfiguração global. E tendo em atenção estes dois pontos, eu diria que a Europa tem que perceber que mudámos de paradigma. O Bloco de Esquerda foi sempre muito crítico da subserviência em relação aos Estados Unidos. Mas mesmo quem achou que isso era boa ideia agora percebe que essa subserviência é deixar as decisões do mundo em Trump e Putin. Falou de reconfiguração global, estamos perante um novo mundo, uma ordem mundial assente em lógicas imperiais de três potências - EUA, China e Rússia?Quando o direito internacional ou o direito humanitário não valem, quando nada vale e é só a lei da força, é de isso que estamos a falar. E os que são fortes hoje poderão ganhar muito, a generalidade da população poderá perder muito e é uma brutal insegurança porque de repente já não há regras, nós já não sabemos quais são as regras da comunidade internacional. Se tudo é: olha ali está algo que me apetece, vamos lá buscar, então em qualquer momento qualquer pessoa que está na sua casa pode estar em risco porque nenhuma regra vale se descobrirem que debaixo da sua casa há um minério qualquer que dá jeito a um qualquer oligarca da tecnologia ou de outra coisa qualquer, e podem tirá-lo da sua casa para ir lá buscar o minério. Isto é verdadeiramente assustador e a União Europeia devia ter um papel muito importante neste momento. Acho que se desistiu dele ao longo dos anos e neste momento isso é fundamental.Que papel deve ser esse concretamente?A Europa reconstruiu-se depois da Segunda Guerra Mundial no direito internacional, no respeito pelo direito internacional, construindo até o que são as bases do direito internacional. Depois foi fechando os olhos ao direito internacional quando não convinha. A Europa também teve uma posição muito cínica ao longo dos anos porque se o direito internacional foi importante para construir bases de paz na Europa, no resto do mundo semearam-se guerras quando dava jeito pelos interesses económicos e geoestratégicos, e continuam a semear-se. Olhemos para o Congo, para o que se passa no norte de Moçambique com a Total, isto para não olharmos para o caso mais evidente da Palestina e o facto de a União Europeia manter um Acordo de Associação com Israel quando Israel não cumpre nada do direito internacional, é uma potência ocupante, com um genocídio em curso, com desocupações constantes em territórios ilegalmente ocupados. A União Europeia foi deixando que o direito internacional se fosse esvaziando quando na verdade depende do direito internacional para a sua própria existência e prosperidade. Acho que neste momento é muito importante que as forças políticas da União Europeia sejam absolutamente claras. O que devia unir quem acredita que a paz é um ...
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