• A imagem que a França quer passar com os Jogos de Paris 2024

  • Jul 25 2023
  • Length: 15 mins
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A imagem que a França quer passar com os Jogos de Paris 2024

  • Summary

  • Sediar Jogos Olímpicos e Paralímpicos é a oportunidade de um país tentar vender uma imagem de si mesmo para o mundo. Com quais cores a França vai se pintar na hora de se exibir para 4 bilhões de pessoas? Cristiane Capuchinho, da RFICandidatar-se como sede dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos é um projeto grandioso. Significa ser o centro das atenções mundiais todos os dias ao longo de um mês. O investimento é grande: a estimativa é de R$ 50 bilhões em dinheiro público e privado. Muitas vezes, o objetivo bradado são os ganhos econômicos com o turismo, no entanto, o projeto inclui a estratégia política de influenciar o mundo com seu "soft power"."Serão 4 bilhões de espectadores, dos quais 1 bilhão apenas na cerimônia de abertura. Então, por essência, este é um projeto político", explica Vincent Roger, secretário do Ministério do Esporte e autor do livro "Paris 2024, um desafio francês".Além de exibir a Torre Eiffel, o Louvre e o Palácio de Versalhes, essa visibilidade oferece a oportunidade de criar ou de consolidar uma imagem de Paris e da França no mundo. Que imagem é essa?O slogan escolhido dá a ideia de uma Olimpíada popular: "Ouvrons Grand les Jeux", em português a tradução seria algo como "Jogos Bem Abertos".A imagem escolhida é a de um país democrático, de direitos humanos e de inclusão popular. Para passar essa ideia, os Jogos de 2024 voltaram à Revolução Francesa, presente no emblema e também na mascote. E para consolidar essa imagem, a maratona de Paris 2024, prova mais emblemática da Olimpíada, refará os passos das mulheres em um episódio central da Revolução Francesa.O historiador Daniel Gomes de Carvalho, professor da UnB (Universidade de Brasília), explica que a Marcha das Mulheres sobre Versalhes é o protesto que obriga o rei francês a deixar seu mais luxuoso palácio e ir para perto do povo, em Paris."Em outubro de 1789, Luís XVI ainda não tinha aceitado a Revolução. Ele não se pronuncia sobre a declaração do homem e do cidadão. Ele não sanciona a abolição dos privilégios", relata o historiador.Enquanto o rei se mostrava reticente a deixar o poder nas mãos do Parlamento, em Paris cresce o medo de que o monarca possa vetar leis e, assim, continuar com o poder supremo. "Nesse momento, chega em Paris um boato sobre um banquete em Versalhes em que os oficiais da monarquia teriam pisado na insígnia tricolor, no vermelho, azul e branco." Esse boato será a gota d'água para um grande protesto, que reúne cerca de 7.000 mulheres em direção a Versalhes. E a população parisiense está armada", salienta o professor."Essa marcha mostra para o rei que a posição dele era muito mais precária do que ele próprio imaginava. Na mesma noite da marcha o rei assina a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão. E nunca mais a coroa vai ocupar o Palácio de Versalhes", finaliza Daniel Gomes de Carvalho.A maratona que começa no centro, diante da prefeitura de Paris, vai seguir até o Palácio de Versalhes e vai retornar a Paris para terminar na esplanada diante do Hotel dos Inválidos. Bonés da revolução na França e no BrasilAs mascotes escolhidas também retomam a Revolução: são bonés vermelhos, que oficialmente levam o nome de barretes frígios. Os barretes têm uma história muito anterior a 1789, eles teriam sido usados por escravos romanos que conquistaram sua liberdade. E, durante a Revolução Francesa, o acessório foi resgatado por aqueles que lutam pela própria liberdade.Por conta da influência francesa, os bonés vermelhos aparecem em diversos lugares do mundo, e inclusive no Brasil. "O barrete frígio aparece no brasão de armas da Argentina, da Nicarágua, de El Salvador, aparece na Bandeira do Paraguai", lista o professor da UnB. "No Brasil, o barrete frígio aparece na bandeira do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Aparece nos brasões dos estados do Acre, do Amazonas, da Bahia, da Paraíba, da cidade do Rio de Janeiro, de Viamão e de Maceió."Apagar imagem de criseCom isso tudo, a França quer apagar a imagem de crise social passada ao mundo pelo noticiário com seus grandes protestos de ruas, carros incendiados e uma revolta popular que tem reaparecido com frequência.O historiador Patrick Clastres, da Universidade de Lausanne, considera que essa escolha de símbolos é um recado para os franceses e para o mundo."A Olimpíada ajuda a produzir um romance nacional, isto é, inventa uma história para o país que nunca existiu. As pessoas que foram às ruas durante os coletes amarelos não eram revolucionárias, era gente que exigia uma vida decente. Na greve da reforma da Previdência, era para ter uma aposentadoria decente em boas condições"", afirma o historiador. "Fazer marketing com o barrete frígio e a Revolução Francesa é uma forma de tentar impor um contradiscurso na sociedade francesa. E, para o mundo, é uma forma de tentar promover a França como país de liberdades e de ...
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