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  • Da ancestralidade à identidade: espetáculos brasileiros ocupam o OFF do Festival de Avignon
    Jul 11 2025
    O Brasil é o país "convidado de honra" do OFF, a mostra paralela do Festival de Avignon em 2025, o maior evento de artes cênicas do mundo. Para trazer os 13 espetáculos brasileiros para a França, uma ampla estrutura vinha sendo construída no último ano, uma parceria da Funarte, a Fundação Nacional das Artes do Brasil, a MitSP, Mostra Internacional de Teatro de São Paulo e a associação francesa Avignon Festival & Compagnies (AF&C). Márcia Bechara, enviada especial a Avignon A presidente da Funarte, Maria Marighella, está em Avignon, no sul da França, e comentou à RFI a participação brasileira. Segundo ela, a presença do país não se limita à exibição de obras cênicas. A proposta curatorial aposta numa ocupação conceitual, em torno de ideias, discursos e saberes que atravessam a criação artística contemporânea. “Tomamos a decisão de estarmos presentes não apenas com espetáculos — isso já está sendo feito com muita força pela plataforma Brasil — mas também com outras fabulações, com uma mirada conceitual”, explicou Marighella. Nesse sentido, o espaço Village du OFF, dedicado à homenagem ao Brasil, tornou-se palco em Avignon de falas e apresentações que compõem o repertório artístico e intelectual do país. Um dos momentos marcantes foi a fala de abertura da artista, pesquisadora e referência do pensamento teatral brasileiro Leda Maria Martins, ao lado do diretor Márcio Abreu. A cerimônia sintetizou o espírito da ocupação brasileira: não apenas mostrar obras, mas apresentar uma visão crítica e poética da cultura nacional, sua singularidade, sua contribuição ao mundo. “O que o Brasil está formulando hoje em termos de identidade, pensamento e criação é fundamental para a troca cultural internacional”, afirmou Maria Marighella. Solidariedade A atmosfera entre as companhias brasileiras presentes também tem sido marcada por solidariedade e apoio mútuo, segundo o ator, diretor e produtor Antônio Interlandi, que faz parte da programação brasileira do OFF de Avignon com o espetáculo La Roue de La vie, a Roda da Vida. “A gente tem se encontrado nas ruas, um tenta ajudar o outro, dar dicas... o ambiente está bem legal”, contou. Para além da programação artística, a direção do OFF abriu um espaço estratégico para promoção dos espetáculos no Village, com atividades paralelas e encontros com programadores internacionais. “Há uma data nesta semana em que podemos conversar diretamente com esses compradores e apresentar nossos projetos. Isso mostra que há uma preocupação também com o pós-festival, com a possibilidade de continuidade”, destacou Interlandi. Tradição indígena O diretor Duda Rios, da peça Azira’í, um musical de memórias, com a atriz indígena Zahy Tentehar, falou sobre a recepção da obra pelo público francês. “As pessoas têm aplaudido muito e se comovido. Escrevemos essa peça inicialmente para um público brasileiro, e não imaginávamos essa dimensão internacional. Mas vemos que ela chega com a mesma potência — claro, em outras camadas, mas chega. As pessoas riem menos do que no Brasil, mas se emocionam e se conectam com a força de Zahy”, relatou. A montagem é legendada em francês e inglês, mas alguns trechos — especialmente os momentos no idioma Ze’eng eté — são propositalmente mantidos sem tradução, preservando sua densidade simbólica e espiritual. Leia tambémCia brasileira traz materialidade radical do teatro em diálogo com a pornografia para Avignon Janaína Leite, que traz ao festival A História do Olho — um dos espetáculos mais provocadores e iconoclastas da cena brasileira recente — também comentou a experiência: “A gente chegou, fez uma primeira apresentação maravilhosa, uma segunda mais difícil. Acho que estamos aprendendo a lidar com esse novo olhar. Venho de uma cena em São Paulo muito habituada à minha pesquisa, que tem 15 anos. Aqui, talvez o olhar seja mais curioso, mais reticente, mas não devemos tomar isso como oposição. Estamos animados em estar aqui dentro de um festival tão grande. Somos 23 pessoas, 16 em cena. Está sendo um grande acontecimento cruzar o oceano para apresentar esse trabalho. Ainda faltam seis apresentações, então estamos curiosos para ver como tudo vai se encaminhar.” A mostra paralela do festival, que este ano homenageia o Brasil, segue em cartaz em Avignon até o dia 26 de julho.
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  • ‘Marulho’: obra monumental de Cildo Meireles é exposta na abadia do Mont-Saint-Michel, na França
    Jun 27 2025

    A abadia do Mont-Saint-Michel, na Normandia, no noroeste da França, acolhe até 16 de novembro a obra "Marulho", do artista brasileiro Cildo Meireles. A exibição integra a programação da temporada França-Brasil 2025.

    Daniella Franco, enviada especial da RFI ao Mont-Saint-Michel

    A instalação imersiva, que pertence à coleção do Centro Nacional de Artes Plásticas da França, foi criada em 1991 e simula uma paisagem marítima por meio de cinco mil fotografias dispostas no chão. Erguida no refeitório dos monges, a obra também é composta por um deck de madeira que convida o público a flutuar sobre esse oceano de papel, ao som de uma trilha sonora em que a palavra "água" é pronunciada em 30 línguas.

    Mais de 30 anos após a sua concepção, "Marulho" continua extremamente atual, considerada uma obra política e poética, segundo o curador da temporada França-Brasil 2025, Emilio Kalil, presente na inauguração do evento. "Cildo nunca esqueceu do entorno dele, dos problemas não só brasileiros como mundiais. Então a gente vê nessa obra uma reflexão sobre o mar, que hoje é tema principal dos grandes debates internacionais, mas também o problema dos imigrantes, nossos vizinhos que de repente são rejeitados. As vozes fazem nos sentir dentro desse marulho", diz.

    O imponente trabalho deste, que é um dos maiores nomes da arte contemporânea do Brasil, foi instalado no interior da abadia do Mont-Saint-Michel, um dos monumentos mais visitados da França e Patrimônio Mundial da Unesco.

    Para a presidente do Centro dos Monumentos Nacionais da França, Marie Lavandier a exposição é um encontro de gigantes.

    "'Marulho' foi instalada no refeitório da abadia do Mont-Saint-Michel, um espaço majestoso. À medida que avançamos no deck em meio a esse oceano de fotografias de Cildo, nosso olhar vai encontrar as janelas do refeitório que se revelam uma após a outra. Então, essa é também a descoberta de uma obra de arte contemporânea e a redescoberta desta joia da arquitetura", explica.

    Obra chegou de helicóptero

    Oferecer esse belo espetáculo aos visitantes foi um grande desafio aos organizadores. As peças de madeira que compõem o deck tiveram que ser transportadas por um helicóptero até o topo da abadia, localizada em um rochedo rodeado pelo mar, a 80 metros acima do nível do oceano. Além disso, para posicionar todas as fotografias que representam as ondas, várias pessoas estiveram mobilizadas durante uma semana.

    Mas segundo a diretora do Centro Nacional das Artes Plásticas da França, Béatrice Salmon, a operação para a montagem de "Marulho", foi um esforço necessário, em nome das reflexões sobre o mar. "Acho que é preciso subir nesse deck, caminhar em meio às ondas, pensar que o Mont-Saint-Michel é rodeado pelo mar e imaginar que subitamente a água entrou na abadia para pensar sobre a importância dos oceanos ao nosso planeta".

    Salmon observa que o Mont-Saint-Michel está diante da Inglaterra, próximo ao Canal da Mancha, onde há anos migrantes arriscam suas vidas. "Esse mar também é um perigo para muitas pessoas, quando elas tentam atravessá-lo de um país a outro em condições dramáticas. São todas essas reflexões que essa obra permite", ressalta.

    "Marulho" não é o único trabalho de Cildo Meireles exposto na temporada França-Brasil 2025. Outra obra icônica do artista, "Cruzeiro do Sul", será exibida no espaço Orangerie, no Jardim de Luxemburgo, em Paris, de 3 a 14 de julho.

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  • “Alma de imigrante, mas coração carioca”: artista Anna Maria Maiolino expõe no Museu Picasso em Paris
    Jun 20 2025
    Organizada dentro da temporada cultural do Brasil na França, o Museu Picasso, em Paris recebe a exposição "Anna Maria Maiolino: Je suis là - Estou Aqui”, a primeira mostra individual na França da artista brasileira de origem italiana. Após cursar Belas Artes em Caracas, na Venezuela, foi no Rio de Janeiro, nos anos 1960, que ela desenvolveu plenamente a sua expressão artística. A influência dos trópicos é uma das marcas de seu trabalho, em que explora o sentimento de pertencimento e de imigração. Maria Paula Carvalho, de Paris A mostra é uma coletânea das principais obras da artista nascida na Calábria, em 1942, que cresceu na Venezuela, antes de se instalar no Brasil. Ao longo de 65 anos de carreira, Anna Maria Maiolino explora múltiplas linguagens artísticas, como disse em entrevista à RFI Fernanda Brenner, que divide a curadoria da exposição com o francês Sébastien Delot. “A ideia é fazer uma amostragem da complexidade e da coerência do trabalho dela", explica a curadora. "Esta exposição não é cronológica, não é montada em eixos temáticos de acordo com as décadas ou as mídias que ela trabalha, mas busca apresentar para o público como a Anna tem um vocabulário muito coeso, muito coerente e, ao mesmo tempo, absolutamente experimental em todas as mídias que ela resolve trabalhar", diz. "Pode ser esculturas em argila, desenhos, pinturas, vídeo, fotografia, performances. Ela transitou por todas as mídias possíveis em arte contemporânea, mas sempre com um vocabulário muito específico e muito ligado com a própria origem dela, como corpo feminino migrante", continua. "Ela que saiu da Itália no pós-guerra, quando o país vivia uma situação de precariedade, de fome. Chegou primeiro na Venezuela, ao fim da infância, e depois no Brasil, aos 20 anos, [onde] encontra a cena brasileira e se faz artista a partir desse encontro com o Brasil”, pontua. Parte de sua formação Anna Maria Maiolino cursou na escola Nacional de Belas Artes Cristóbal-Rojas, em Caracas. Em 1960, ela se mudou com os pais para o Rio de Janeiro, onde continuou sua formação artística, estudando pintura com Henrique Cavalleiro e xilogravura com Adir Botelho. Em paralelo, ela frequentou o curso de estética de Ivan Serpa, no Museu de Arte Moderna. A artista diz que não trabalha com a intuição, mas pensa e repensa cada passo de sua criação. Em entrevista à RFI, Anna Maria explicou o título da mostra parisiense: 'Estou aqui'. “Você busca um discurso próprio, diferente, mas isso é uma grande mentira, porque você vem do passado, com todas as culturas do passado. Isso é uma coisa muito forte para mim, porque eu era imigrante no Brasil", lembra. "Ao chegar no Rio de Janeiro, que é uma cidade incrível, eu percebi a liberdade que a arte brasileira tinha", completa. Em 1968, Maiolino obteve a cidadania brasileira. Durante a ditadura, ela e o marido, Rubens Gerchman, se mudaram para Nova York, onde ela realizou parte das obras expostas em Paris. Nos Estados Unidos, a dificuldade por não falar inglês também acabou virando objeto de pesquisa, especialmente em desenhos e poemas. "Eu estive em vários países, em vários lugares. E sempre quando você muda de fronteira, o que existe é a sua presença no lugar. Então, para mim, este título significa que, mais uma vez, eu estou atravessando a fronteira, eu estou na França, estou em Paris, no Museu Picasso, que para mim é mais um território, pois sou uma andarilha, com alma de imigrante", define. Coração brasileiro A artista retornou ao Brasil em 1972, se instalando primeiro no Rio de Janeiro, antes de se mudar para São Paulo, após o divórcio. Suas obras são inspiradas em diferentes línguas, culturas e contextos políticos em que viveu. "Voltar a Paris é voltar para aquilo que eu sou. Eu nasci na Itália, sou uma europeia do Mediterrâneo, mas pertenço a várias camadas dos países onde vivi", afirma. "Meu coração é brasileiro, é carioca. São Paulo não tem linha do horizonte, então me sinto prisioneira em São Paulo", diz. Leão de Ouro em Veneza Em 2024, a artista foi recompensada com o Leão de Ouro na Bienal de Veneza pelo conjunto de sua carreira. Na ocasião, Anna Maria Maiolino dedicou o prêmio à arte brasileira e ao país que a acolheu. "Uma das coisas básicas da minha obra é a memória. A memória física e emocional", diz. "É óbvio que a minha chegada ao Brasil me ajudou a encontrar um discurso particular meu", continua. "Porque o brasileiro começa a sua arte com o Barroco, que é modernidade, não tem uma arte do passado. Tem a arte dos negros africanos, tem a arte dos índios e grande parte da arte brasileira carrega em si um ritual", observa. No Museu Picasso, no bairro do Marais, a exposição de Anna Maria Maiolino dialoga com a obra do artista espanhol. Ela mesma traça semelhanças com ele. “Qual é a minha relação com o Picasso? Mesmo sendo de épocas diferentes, ele ...
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  • Ernesto Neto ocupa Grand Palais de Paris com ressonâncias da floresta e da ancestralidade
    Jun 6 2025
    Ernesto Neto é um artista irrequieto, que liga uma ideia a outra, uma criação a outra. As honras são dele de ocupar até final de julho a imensa nave do Grand Palais, um dos principais endereços culturais de Paris, com “Nosso Barco Tambor Terra”. A inauguração nesta sexta-feira (6) conta com a presença dos presidentes Lula e Emmanuel Macron. Patrícia Moribe, em ParisDepois de instalações monumentais em locais emblemáticos da capital parisiense, como o Panteão e a loja de departamentos Le Bon Marché, o carioca Ernesto Neto criou uma enorme obra interativa no Grand Palais, com cores, cheiros e som.Teias de crochê feitas de tecidos coloridos se agarram ao domo do local, formando uma espécie de cúpula, como copas de árvores. Os frutos exalam especiarias como canela, cravo e pimenta-do-reino. O artista convida os visitantes a tirar os sapatos e adentrar na instalação, pisando em lascas de cascas de árvores, descobrindo tambores de várias origens espalhados e prontos para serem manuseados.O artista conta que a ideia começou a brotar em 2018, quando visitou Lisboa pela primeira vez. “Eu estava andando pelo Tejo, feliz da vida, com a minha esposa e uma amiga. A gente vendo aquele rio lindo, enorme, um céu azul maravilhoso, de repente eu me dei conta que o fim do rio estava ali adiante e que lá começava o Atlântico”, relata Neto.“E aí veio toda a nossa história, toda a colonização, toda aquela invasão, a problemática indígena, da matança, a problemática da escravidão africana que chegou no Brasil”, explica. “Há também a consciência da nossa história, que é uma coisa que eu venho falando há muito tempo, que somos filhos de mães indígenas - filhos e filhas de mães indígenas. A ideia de Brasil nasce quando nasce a primeira criança, filha de europeu no Brasil e mãe indígena. E depois são os filhos de mães africanas que chegaram para serem escravizadas. Então é uma história bem complexa que a gente tem”.Quando o convite para a exposição chegou há cinco anos, a ideia já estava pronta. “Eu sabia que tinha que ser alguma coisa ligada ao barco, ao planeta Terra e ao tambor e à floresta, porque a floresta é a vida, a floresta é a multinatureza, é a força vital. É ela que limpa o universo, produz essa infinidade de seres vivos, essa pluralidade de encontros e desencontros, mas de também um encantamento, um milagre, essa coisa assim majestosa que é a vida”.“O planeta é cheio de tambores. Assim como nosso corpo, que tem um grande tambor, que é o nosso coração que está batendo - tum, tum, tum, tum. O tambor originalmente é feito de um tronco de árvore com uma pele de animal. Então ele é uma mistura do vegetal com o animal. Eu acho isso uma coisa muito linda. Claro que temos tambores hoje em dia de metal com vinil e coisas do gênero, mas a origem é essa”, explica.Nova geraçãoO Grand Palais também dá espaço no mezanino para uma nova geração de pintores brasileiros, que participam da mostra “Horizontes”, refletindo a pluralidade contemporânea no Brasil, passando por temas como identidade, espiritualidade, trauma e paisagem.Agrade Camiz, nasceu no Rio de Janeiro em 1988. Suas telas apresentam camadas visuais e conceituais que lidam com o caos, intimidade de corpos e territórios populares. “Eu sou do subúrbio do Rio, comecei a pintar na rua, primeiro pichando e depois fazendo murais de grafite. Depois de 2017 eu comecei a sentir uma necessidade de me expressar de outras maneiras, usar outras coisas, outras materialidades”, relata.O mineiro Vinicius Gerheim (1992) é de Juiz de Fora. A ruralidade mineira tem parte importante na gênese de seu trabalho. “Juiz de Fora é uma cidade que tem 175 anos, é uma cidade muito recente. A maneira que consumi pintura foi uma pesquisa me levou a uma caligrafia de paisagem. Foi uma maneira de fazer uma conjuntura, unir tudo isso que eu aprendi e vi depois com o meu aprendizado na escola de pintura mesmo".Marina Perez Simão, nasceu em 1980 em Vitória, e passou pela Escola de Belas Artes de Paris. Ela propõe uma abordagem abstrata e meditativa. “Eu venho trabalhando nessa série já há muitos anos, assim, um corpo de trabalho que são essas invenções de espaço que habitam o lugar entre paisagem e abstração”, disse a artista à RFI.Antonio Obá, nascido em 1983 em Ceilândia, encara a pintura como gesto político. Seu trabalho evoca a cosmologia ioruba, o cristianismo, os rituais afro-brasileiros para interrogar o corpo negro e sua representação.“Nosso Barco Tambor Terra” e “Horizontes” fazem parte da Temporada França-Brasil 2025 e podem ser visitados no Grand Palais, de Paris, até 25 de julho, gratuitamente.
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  • Centro Pompidou em Foz do Iguaçu terá projeto sustentável do paraguaio Solano Benítez
    May 30 2025

    Depois de cinco anos de negociações e estudos, foi assinado em Paris um acordo entre o Centro Georges Pompidou e o governo estadual do Paraná para a construção em Foz do Iguaçu da primeira filial das Américas do museu de arte moderna e contemporânea da França.

    Patrícia Moribe, em Paris

    O responsável pelo projeto do Centro Pompidou Paraná é o arquiteto paraguaio Solano Benítez, Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza em 2016, entre outros prêmios. Benítez é conhecido pelo uso inovador de materiais simples em construções sustentáveis. O trabalho tem a colaboração do arquiteto brasileiro Angelo Bucci.

    Solano Benítez nasceu em 1963, em Assunção, Paraguai, e é cofundador do estúdio Gabinete de Arquitectura. Seu escritório se destaca em explorar possibilidades de materiais simples, como o tijolo cerâmico e valorizar a mão de obra local. Seu trabalho é também é marcado pelo comprometimento social, aliando soluções de baixo custo e alto impacto arquitetônico.

    Um dos eixos do projeto, explica Solano Benítez, foi o tema da aprendizagem. Ele se mostra bastante animado em usar a sua disciplina, o seu ofício, em prol de um museu. “Em tempos em que tudo muda tão rapidamente, é difícil imaginar como será o futuro”, disse à RFI. Ele acha fascinante a possibilidade de dispor as pessoas de um aprendizado que possam utilizar no futuro. “Temos que fazer com que o ensino esteja acima e que estimule a capacidade das pessoas”, acrescenta.

    “Fazer um museu como uma oportunidade única de instrução é também coletar experiências que já é nosso capital, como receitas para se enfrentar o futuro, como uma oportunidade para lembrarmos a nós mesmos que somos nós que temos de construir o novo tempo”, diz o arquiteto.

    Benítez destaca também que o museu vai oferecer uma nova relação com a natureza, uma vez que vai ser instalado no limite exato onde começa a reserva florestal do Parque Iguaçu. “O museu pretende fazer interconexões diferentes com a natureza, estabelecendo novas pautas e relações”, sem esquecer que ao lado há uma “gigantesca fábrica de arco-íris que são as Cataratas”.

    “Os últimos anos viram um desenvolvimento excepcional de materiais de última tecnologia, lâminas de titânio, um material muito sofisticado, gerando uma admiração diante do que é vinculado a um bom fazer”, relata Benítez.

    "Tudo ao contrário"

    “O que pretendemos é desandar e fazer tudo o contrário. Que a condição do extraordinário permaneça, mas se conseguirmos transcender e fazer com que a tecnologia de um material tão simples na aparência seja causa de admiração das pessoas, com um relacionamento cuidadosamente construído, então acho que teríamos condições de oferecer um futuro melhor a todos”.

    Solano Benítez nasceu em 1963, em Assunção, e formou-se pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Nacional de Assunção (FAUNA). Ele é cofundador do Gabinete de Arquitectura, que desde 1987 se destaca por explorar possibilidades construtivas de materiais simples, como o tijolo cerâmico e por favorizar a mão de obra local, com comprometimento social e sustentável.

    Com o Pompidou Paraná, Benítez passa a fazer parte de um grupo de renomados arquitetos internacionais que assinam os projetos do museu, começando pelo italiano Renzo Piano e o britânico Richard Rogers, autores do Centro Georges Pompidou, também conhecido como Beaubourg, construído no local do antigo mercado municipal de Paris. A estrutura de tubos coloridos no exterior causou polêmica no início, mas logo se formalizou como um cartão postal da capital.

    A filial de Metz, França, foi assinada pelo japonês Shigeru Ban, além de Jean de Gastines (França) e Philip Guruchdjian (Reino Unido). O de Málaga, na Espanha, teve como arquitetos responsáveis Javier Pérez de la Fuente e Juan Antonio Marín Malavé, que trabalharam com a intervenção artística de Daniel Buren (França), na fachada.

    O Centro Pompidou x West Bund Museum Project, em Xangai, na China, foi projetado pelo escritório David Chipperfield Architects. Além do Pompidou de Foz do Iguaçu, há um outro projeto em desenvolvimento, do de Seul, na Coreia do Sul. O Centro Pompidou Paraná tem previsão de ser inaugurado em 2027.

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  • Exposição no sudoeste da França propõe diálogo imaginário entre rios brasileiros e franceses
    May 29 2025
    A exposição "Águas Subterrâneas: Narrativas de Confluências" está em cartaz no Fundo Regional de Arte Contemporânea (Frac) Poitou-Charentes, em Angoulême, no sudoeste da França. O evento é realizado em parceria com o Instituto Tomie Ohtake, de São Paulo, como parte da programação da Temporada França-Brasil 2025. Daniella Franco, enviada especial da RFI a AngoulêmeA mostra coletiva exibe obras de 12 artistas franceses e brasileiros - entre instalações, vídeos, fotografias e ilustrações - com a proposta de um diálogo imaginário entre rios dos dois países e seus relatos culturais, históricos e ambientais. O objetivo é abordar a escassez de água potável, denunciando as histórias coloniais e extrativistas e refletindo sobre a busca de soluções. Uma das curadoras do evento, Ana Roman, superintendente artística do Instituto Tomie Ohtake, destaca uma questão em comum entre as duas instituições que organizam o evento: a relação com "os corpos d'água". "Tanto o Frac de Angoulême quanto o Instituto Tomie Ohtake têm territórios muito próximos a rios. Apesar de muito distantes, a gente começou a discutir e a pensar que a gente têm problemas e questões similares relacionadas à domesticação desses corpos, a não compreensão deles como seres vivos e a falta de direitos histórica", ressalta.Caatinga e Deserto de SonoraEntre os artistas que fazem parte da mostra estão Vitor Cesar e Enrico Rocha, do Ceará. A dupla apresenta na mostra um conjunto formado por uma instalação, uma ilustração e um vídeo - obra que nasceu de uma pesquisa sobre a caatinga.O trabalho evoca a escassez da água neste bioma próprio do nordeste brasileiro. "A gente sentiu a necessidade se aproximar mais da caatinga, começamos a fazer visitas, a promover encontros e inclusive a convidar aristas de outras regiões para nos ajudar a olhar para aquele lugar, entendendo e intuindo que ele poderia nos apresentar questões e nos fazer outras possibilidades de vida", explica Enrico. A reflexão sobre territórios, povos e os impactos das mudanças climáticas também é abordada por outra artista na exposição, a paraibana Rastros de Diógenes, que apresenta a obra "Zona de Imaginação Climática". Por meio de uma série de colagens fotográficas, ela mistura paisagens reais e personagens autobiográficas, que entrelaça em um diagrama distópico e futurista.Em entrevista à RFI, Rastros de Diógenes conta que o trabalho surgiu durante uma residência artística que realizou no deserto de Sonora, no México. "A partir daí surge um mapa de imaginação climática, pensando a partir de três figuras - a mensageira, a curandeira e a agricultora. É como se elas habitassem em um mundo pós-apocalíptico, na tentativa de reconstruir a Terra e dar continuidade à vida", diz. Crítica infraestruturalO artista e pesquisador Daniel de Paula contesta a visão otimista em torno da energia gerada pelas hidrelétricas no Brasil e levou para a mostra uma instalação que compara vídeos de propaganda governamental a imagens feitas por moradores nos entornos da usina de Belo Monte, no Pará. "Pensar a infraestrutura de uma maneira crítica é entender que existe uma relação entre o indivíduo, a instituição e a infraestrutura, e que não há uma neutralidade no nosso uso da energia elétrica", defende. Com sua obra, o artista espera incitar a conscientização do público sobre o que há por trás de gestos que passam despercebidos no cotidiano. "A partir do momento que a gente está conectando o nosso celular para carregar a bateria dele, ele está vinculado a algum contexto que gera essa energia", saliente. "E qual é esse contexto? É uma hidrelétrica? Como essa hidrelétrica foi parar lá? Houve pessoas e populações que foram expulsas, lugares que foram expropriados, flora e fauna extintas", observa. O Coletivo Coletores, formado por Flávio Camargo e Toni Baptiste, de São Paulo, também trabalha na perspectiva da crítica por meio de seus trabalhos. Eles exibem em Angoulême três peças que fazem parte da série "Anamnesis - Palafitas e Refluxos", pensando nas similaridades entre o rio Tietê e o rio Charente. Assim, a dupla propõe uma reflexão sobre a dualidade de fatos positivos e negativos sobre as histórias desses cursos d'água e suas memórias. "A gente pega emprestado esse conceito de anamnese da Medicina, que é basicamente um processo em que o médico faz algumas perguntas ao paciente para criar um diagnóstico sobre aquilo que ele está sentindo. Mas, no nosso trabalho, a gente faz essas perguntas para a cidade, e usamos a memória como ferramenta para captar essas histórias", diz Toni. Flávio destaca a imensa palafita construída especialmente para a exposição: uma forma de abordar a questão de "estruturas que nascem como moradias precárias para lidar com as mudanças climáticas", observa. Segundo ele, a instalação também incita a reflexão sobre questões ...
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  • Bienal da Dança de Lyon traz oito espetáculos brasileiros em temporada cultural França-Brasil 2025
    May 23 2025
    A 21ª Bienal da Dança de Lyon, que acontece de 6 a 28 de setembro, é um dos momentos mais marcantes do calendário cultural de 2025 na França, e continua por toda a região francesa de Auvergne-Rhône-Alpes (leste) até o dia 17 de outubro. Durante mais de um mês, a dança toma conta das ruas, palcos e espaços públicos de Lyon e arredores, com uma programação intensa, diversa e engajada. Este ano, a bienal criou um programa especial para homenagear o Brasil, convidado de honra: o Brasil agora! Com 40 espetáculos, sendo 24 estreias na França, esta edição da Bienal de Dança de Lyon se afirma como um lugar de experimentação e compromisso com o mundo contemporâneo. Grandes nomes da dança internacional se encontram com vozes emergentes da vanguarda, refletindo a pluralidade da criação coreográfica atual."Há um grande foco chamado Brasil Agora, com oito projetos de artistas brasileiros, realizados no âmbito da temporada cruzada Brasil-França. Essa é uma parte muito importante da nossa programação", explica o diretor do festival, o português Tiago Guedes. "Trata-se de uma espécie de atualização sobre o que é a dança e a coreografia brasileira hoje, com artistas de diversas trajetórias, espetáculos de diferentes formatos e representantes de várias gerações", sublinha."Por exemplo, temos o espetáculo de abertura com Lia Rodrigues [a nova criação, intitulada Borda], uma das grandes coreógrafas brasileiras. Mas também teremos artistas muito jovens, que estão começando agora e vão apresentar seus trabalhos", exemplifica o diretor.O evento acolhe oito espetáculos e performances de artistas brasileiros que vêm agitar a cena francesa da dança contemporânea em 2025, entre eles: Alejandro Ahmed, Clarice Lima, Davi Pontes, Wallace Ferreira, Diego Dantas, Lia Rodrigues, Luiz de Abreu, Calixto Neto, Original Bomber Crew e Volmir Cordeiro.AlteridadesAlejandro Ahmed, diretor e coreógrafo do grupo Cena 11, companhia de dança de Florianópolis, se apresenta pela primeira vez na Bienal de Lyon, com o trabalho "Eu não sou só eu em mim", que questiona o que poderia ser "a dança do Brasil, e no Brasil". "'Eu não sou eu em mim' é um trabalho que faz parte de um processo maior chamado 'Estado de Natureza'. Esse processo se articula a partir de uma pergunta: o que pode ser a dança no Brasil e do Brasil? Que dança seria essa?", explica o coreógrafo."O Cena 11 entende a dança como uma tecnologia de comportamento, e articula comportamento, matéria e linguagem para produzir uma modulação músculo-esquelética e emocional da gravidade. Ou seja, o peso é o nosso modo de articular pensamento, movimento e dramaturgia. Essa relação com o peso e com o corpo no espaço constitui um padrão de conexão entre diversas danças e técnicas — urbanas e locais — que o grupo Cena 11 articula nesse trabalho", desenvolve Ahmed."O trabalho é, portanto, uma pergunta sobre a alteridade: sobre o outro que nos habita, e que, de alguma forma, é sempre vital para compreendermos a nós mesmos", finaliza.Desfile de aberturaJá Diego Dantas, diretor artístico do Centro Coreográfico do Rio de Janeiro, mistura influências entre sua formação na dança clássica, no samba e em criações contemporâneas para engendrar o Défilé, o tradicional desfile de abertura da Bienal de Dança de Lyon, cujo tema em 2025 é a "reciclagem das danças". "Meu projeto se alinha à temática da Bienal, porque eu aproveito essa proposta para recuperar um repertório coreográfico ligado ao carnaval, que é um repertório exigente, que olha para as danças tradicionais, para os territórios do corpo, para o carnaval, para a cidade, e também para as danças negras e contemporâneas", contextualiza."É um diálogo entre o tradicional e o contemporâneo como prática de resistência e de ancestralidade em movimento — essa grande potência de comunicação com a comunidade que é o carnaval", resume. "A dança é sempre uma tecnologia muito importante de multiplicação. Então eu recupero coreografias que criei tanto para a Império da Tijuca quanto para outras escolas por onde passei, como a Unidos da Vila Kennedy e a própria Imperatriz Leopoldinense. Eu revisito esse repertório com base em uma música e em referências sonoras que o DJ Pedro Berto está desenvolvendo a partir das indicações que passei para ele, criando uma trilha sonora original — que está linda, por sinal", comemora Dantas."A ideia é levar tudo isso, essas referências ancestrais da cultura afro-brasileira, com movimentos que dialogam com as danças dos orixás, para fazer esse projeto lindo acontecer em Lyon. Queremos levar a força do Brasil e do carnaval da cidade do Rio de Janeiro para dentro desse desfile, sempre pensando nesses diálogos possíveis entre o tradicional e o contemporâneo — o que um pode oferecer ao outro", conclui o coreógrafo e bailarino carioca."Rua"O espetáculo "Rua", do premiado coreógrafo ...
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  • David Hockney expõe obras dos últimos 25 anos na Fundação Louis Vuitton, em Paris
    May 9 2025
    Aos 87, David Hockney, um dos artistas britânicos mais influentes dos séculos 20 e 21, continua ativo como nunca. Prova disso é a exposição “David Hockney, 25”, em cartaz na Fundação Louis Vuitton, em Paris, dedicada à sua produção dos últimos 25 anos. Patrícia Moribe, em ParisPela primeira vez no imponente prédio projetado por Frank Gehry, um artista ainda vivo ganha as honras da casa. As filas de entrada são longas, mas uma vez dentro do museu, os visitantes se espalham pelas onze salas em três andares, sem a sensação de acotovelamento diante das obras.São mais de 400 trabalhos expostos, geralmente de grandes proporções, entre pinturas, desenhos, fotografias, colagens, projeções e a sua paixão dos últimos anos – as pinturas feitas no telefone celular e tablet. “Não se trata de uma retrospectiva, embora apresentemos uma espécie de prelúdio com obras célebres, como a famosa pintura da piscina, A Bigger Splash” (1967), explica Magdalena Gemra, da equipe de curadoria da fundação, entrevistada por Muriel Maloouf, da RFI, referindo-se ao quadro da fase californiana de Hockney, com muita luminosidade e referências à água. Outra pérola dessa época, também na mostra, é “Retrato de um Artista”, de 1972, arrematado em leilão em 2018 por US$ 90 milhões, valor recorde na época para um quadro de um artista ainda em vida.Mas o foco da exposição em Paris, explica Gemra, foi especialmente para as obras dos últimos 25 anos, incluindo quatro anos passados na Normandia, isolado durante a Covid, quando Hockney mergulhou na paisagem local e nos retratos das pessoas próximas a ele.A exposição começa com um grande letreiro de neon na parede: Remember you cannot cancel spring (“Lembre-se de que não se pode cancelar a primavera”), uma frase que Hockney escreveu para um grupo de amigos durante a pandemia, em 2020. “É uma mensagem alegre e esperançosa que queremos transmitir com a exposição. Mesmo diante das tragédias que todos vivemos, a obra de David transmite uma alegria que permanece”, disse Magdalena Gemra.O irrequieto Hockney participou ativamente de todas as etapas da montagem da exposição, passando pelas cores das paredes, até o catálogo. A equipe da fundação o visitou várias vezes em seu ateliê em Londres e o artista veio a Paris três vezes, sempre acompanhado de familiares e amigos.Sempre rebeldeDavid Hockney nasceu em 9 de julho de 1937, em Bradford, Inglaterra. Estudou na Royal Academy of Arts e foi apontado como um dos pioneiros da arte pop na Grã-Bretanha. Mudou-se nos anos 1960 para Los Angeles, também com temporadas em Londres e Paris.Na virada do século, ele voltou seus olhos e paletas para a Yorkshire natal, retratando o que via e sentia com aquarelas e óleos.Hockney sempre explorou técnicas diferentes, das tintas, passando pela foto, até a imagem digital, na qual virou referência.Influência“Em 2010, eu vi na Fundação Pierre Bergé e Yves Saint Laurent, em Paris, seus primeiros desenhos feitos no iPhone e fiquei muito impressionado”, diz o artista visual Fernando Barata, radicado em Paris e que também trabalha com imagens digitais. “Enquanto muitos artistas pop usavam a tecnologia como comentário sobre a cultura de massa e reprodução, mecânica, Hockney a incorporou em seu processo criativo. Para ele, um iPad não é apenas uma referência cultural, mas um suporte legítimo, um novo meio expressivo que merece a mesma seriedade da pintura tradicional”, apontou o artista. “Foi uma verdadeira alavanca para meus primeiros trabalhos digitais em iPad. A difusão instantânea das obras digitais criou um novo paradigma que desafia o modelo tradicional de galerias, marchands e leilões. Essa democratização dos meios de distribuição transformou a relação entre artistas e público, permitindo conexões diretas sem os intermediários tradicionais de sistema artístico”, diz Fernando Barata.A exposição também traz as paisagens grandiosas da natureza americana e muitos retratos, principalmente de amigos e pessoas próximas, como o companheiro e braço-direito Jean-Pierre Gonçalves de Lima. O rebelde Hockney chegou a recusar uma condecoração e uma encomenda para pintar o retrato da rainha Elizabeth II.Na última sala, imersiva, suas criações para óperas passeiam pelas paredes. Os visitantes podem ficar onde quiserem, mas os locais mais disputados são as almofadas espalhadas pelo chão.Homossexual assumido e fumante inveterado, sempre com roupas coloridas e um sorriso no rosto, Hockney não para de se reinventar."David Hockney 25" fica em cartaz na Fundação Louis Vuitton, em Paris, até 31 de agosto de 2025.
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