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Rendez-vous cultural

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De: RFI Brasil
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Reportagens sobre exposições, concertos e espetáculos na França. Destaque para os artistas brasileiros e suas criações apresentadas na Europa. Na literatura, lançamentos e as principais feiras de livros do mundo.

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  • Da ancestralidade à identidade: espetáculos brasileiros ocupam o OFF do Festival de Avignon
    Jul 11 2025
    O Brasil é o país "convidado de honra" do OFF, a mostra paralela do Festival de Avignon em 2025, o maior evento de artes cênicas do mundo. Para trazer os 13 espetáculos brasileiros para a França, uma ampla estrutura vinha sendo construída no último ano, uma parceria da Funarte, a Fundação Nacional das Artes do Brasil, a MitSP, Mostra Internacional de Teatro de São Paulo e a associação francesa Avignon Festival & Compagnies (AF&C). Márcia Bechara, enviada especial a Avignon A presidente da Funarte, Maria Marighella, está em Avignon, no sul da França, e comentou à RFI a participação brasileira. Segundo ela, a presença do país não se limita à exibição de obras cênicas. A proposta curatorial aposta numa ocupação conceitual, em torno de ideias, discursos e saberes que atravessam a criação artística contemporânea. “Tomamos a decisão de estarmos presentes não apenas com espetáculos — isso já está sendo feito com muita força pela plataforma Brasil — mas também com outras fabulações, com uma mirada conceitual”, explicou Marighella. Nesse sentido, o espaço Village du OFF, dedicado à homenagem ao Brasil, tornou-se palco em Avignon de falas e apresentações que compõem o repertório artístico e intelectual do país. Um dos momentos marcantes foi a fala de abertura da artista, pesquisadora e referência do pensamento teatral brasileiro Leda Maria Martins, ao lado do diretor Márcio Abreu. A cerimônia sintetizou o espírito da ocupação brasileira: não apenas mostrar obras, mas apresentar uma visão crítica e poética da cultura nacional, sua singularidade, sua contribuição ao mundo. “O que o Brasil está formulando hoje em termos de identidade, pensamento e criação é fundamental para a troca cultural internacional”, afirmou Maria Marighella. Solidariedade A atmosfera entre as companhias brasileiras presentes também tem sido marcada por solidariedade e apoio mútuo, segundo o ator, diretor e produtor Antônio Interlandi, que faz parte da programação brasileira do OFF de Avignon com o espetáculo La Roue de La vie, a Roda da Vida. “A gente tem se encontrado nas ruas, um tenta ajudar o outro, dar dicas... o ambiente está bem legal”, contou. Para além da programação artística, a direção do OFF abriu um espaço estratégico para promoção dos espetáculos no Village, com atividades paralelas e encontros com programadores internacionais. “Há uma data nesta semana em que podemos conversar diretamente com esses compradores e apresentar nossos projetos. Isso mostra que há uma preocupação também com o pós-festival, com a possibilidade de continuidade”, destacou Interlandi. Tradição indígena O diretor Duda Rios, da peça Azira’í, um musical de memórias, com a atriz indígena Zahy Tentehar, falou sobre a recepção da obra pelo público francês. “As pessoas têm aplaudido muito e se comovido. Escrevemos essa peça inicialmente para um público brasileiro, e não imaginávamos essa dimensão internacional. Mas vemos que ela chega com a mesma potência — claro, em outras camadas, mas chega. As pessoas riem menos do que no Brasil, mas se emocionam e se conectam com a força de Zahy”, relatou. A montagem é legendada em francês e inglês, mas alguns trechos — especialmente os momentos no idioma Ze’eng eté — são propositalmente mantidos sem tradução, preservando sua densidade simbólica e espiritual. Leia tambémCia brasileira traz materialidade radical do teatro em diálogo com a pornografia para Avignon Janaína Leite, que traz ao festival A História do Olho — um dos espetáculos mais provocadores e iconoclastas da cena brasileira recente — também comentou a experiência: “A gente chegou, fez uma primeira apresentação maravilhosa, uma segunda mais difícil. Acho que estamos aprendendo a lidar com esse novo olhar. Venho de uma cena em São Paulo muito habituada à minha pesquisa, que tem 15 anos. Aqui, talvez o olhar seja mais curioso, mais reticente, mas não devemos tomar isso como oposição. Estamos animados em estar aqui dentro de um festival tão grande. Somos 23 pessoas, 16 em cena. Está sendo um grande acontecimento cruzar o oceano para apresentar esse trabalho. Ainda faltam seis apresentações, então estamos curiosos para ver como tudo vai se encaminhar.” A mostra paralela do festival, que este ano homenageia o Brasil, segue em cartaz em Avignon até o dia 26 de julho.
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  • ‘Marulho’: obra monumental de Cildo Meireles é exposta na abadia do Mont-Saint-Michel, na França
    Jun 27 2025

    A abadia do Mont-Saint-Michel, na Normandia, no noroeste da França, acolhe até 16 de novembro a obra "Marulho", do artista brasileiro Cildo Meireles. A exibição integra a programação da temporada França-Brasil 2025.

    Daniella Franco, enviada especial da RFI ao Mont-Saint-Michel

    A instalação imersiva, que pertence à coleção do Centro Nacional de Artes Plásticas da França, foi criada em 1991 e simula uma paisagem marítima por meio de cinco mil fotografias dispostas no chão. Erguida no refeitório dos monges, a obra também é composta por um deck de madeira que convida o público a flutuar sobre esse oceano de papel, ao som de uma trilha sonora em que a palavra "água" é pronunciada em 30 línguas.

    Mais de 30 anos após a sua concepção, "Marulho" continua extremamente atual, considerada uma obra política e poética, segundo o curador da temporada França-Brasil 2025, Emilio Kalil, presente na inauguração do evento. "Cildo nunca esqueceu do entorno dele, dos problemas não só brasileiros como mundiais. Então a gente vê nessa obra uma reflexão sobre o mar, que hoje é tema principal dos grandes debates internacionais, mas também o problema dos imigrantes, nossos vizinhos que de repente são rejeitados. As vozes fazem nos sentir dentro desse marulho", diz.

    O imponente trabalho deste, que é um dos maiores nomes da arte contemporânea do Brasil, foi instalado no interior da abadia do Mont-Saint-Michel, um dos monumentos mais visitados da França e Patrimônio Mundial da Unesco.

    Para a presidente do Centro dos Monumentos Nacionais da França, Marie Lavandier a exposição é um encontro de gigantes.

    "'Marulho' foi instalada no refeitório da abadia do Mont-Saint-Michel, um espaço majestoso. À medida que avançamos no deck em meio a esse oceano de fotografias de Cildo, nosso olhar vai encontrar as janelas do refeitório que se revelam uma após a outra. Então, essa é também a descoberta de uma obra de arte contemporânea e a redescoberta desta joia da arquitetura", explica.

    Obra chegou de helicóptero

    Oferecer esse belo espetáculo aos visitantes foi um grande desafio aos organizadores. As peças de madeira que compõem o deck tiveram que ser transportadas por um helicóptero até o topo da abadia, localizada em um rochedo rodeado pelo mar, a 80 metros acima do nível do oceano. Além disso, para posicionar todas as fotografias que representam as ondas, várias pessoas estiveram mobilizadas durante uma semana.

    Mas segundo a diretora do Centro Nacional das Artes Plásticas da França, Béatrice Salmon, a operação para a montagem de "Marulho", foi um esforço necessário, em nome das reflexões sobre o mar. "Acho que é preciso subir nesse deck, caminhar em meio às ondas, pensar que o Mont-Saint-Michel é rodeado pelo mar e imaginar que subitamente a água entrou na abadia para pensar sobre a importância dos oceanos ao nosso planeta".

    Salmon observa que o Mont-Saint-Michel está diante da Inglaterra, próximo ao Canal da Mancha, onde há anos migrantes arriscam suas vidas. "Esse mar também é um perigo para muitas pessoas, quando elas tentam atravessá-lo de um país a outro em condições dramáticas. São todas essas reflexões que essa obra permite", ressalta.

    "Marulho" não é o único trabalho de Cildo Meireles exposto na temporada França-Brasil 2025. Outra obra icônica do artista, "Cruzeiro do Sul", será exibida no espaço Orangerie, no Jardim de Luxemburgo, em Paris, de 3 a 14 de julho.

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  • “Alma de imigrante, mas coração carioca”: artista Anna Maria Maiolino expõe no Museu Picasso em Paris
    Jun 20 2025
    Organizada dentro da temporada cultural do Brasil na França, o Museu Picasso, em Paris recebe a exposição "Anna Maria Maiolino: Je suis là - Estou Aqui”, a primeira mostra individual na França da artista brasileira de origem italiana. Após cursar Belas Artes em Caracas, na Venezuela, foi no Rio de Janeiro, nos anos 1960, que ela desenvolveu plenamente a sua expressão artística. A influência dos trópicos é uma das marcas de seu trabalho, em que explora o sentimento de pertencimento e de imigração. Maria Paula Carvalho, de Paris A mostra é uma coletânea das principais obras da artista nascida na Calábria, em 1942, que cresceu na Venezuela, antes de se instalar no Brasil. Ao longo de 65 anos de carreira, Anna Maria Maiolino explora múltiplas linguagens artísticas, como disse em entrevista à RFI Fernanda Brenner, que divide a curadoria da exposição com o francês Sébastien Delot. “A ideia é fazer uma amostragem da complexidade e da coerência do trabalho dela", explica a curadora. "Esta exposição não é cronológica, não é montada em eixos temáticos de acordo com as décadas ou as mídias que ela trabalha, mas busca apresentar para o público como a Anna tem um vocabulário muito coeso, muito coerente e, ao mesmo tempo, absolutamente experimental em todas as mídias que ela resolve trabalhar", diz. "Pode ser esculturas em argila, desenhos, pinturas, vídeo, fotografia, performances. Ela transitou por todas as mídias possíveis em arte contemporânea, mas sempre com um vocabulário muito específico e muito ligado com a própria origem dela, como corpo feminino migrante", continua. "Ela que saiu da Itália no pós-guerra, quando o país vivia uma situação de precariedade, de fome. Chegou primeiro na Venezuela, ao fim da infância, e depois no Brasil, aos 20 anos, [onde] encontra a cena brasileira e se faz artista a partir desse encontro com o Brasil”, pontua. Parte de sua formação Anna Maria Maiolino cursou na escola Nacional de Belas Artes Cristóbal-Rojas, em Caracas. Em 1960, ela se mudou com os pais para o Rio de Janeiro, onde continuou sua formação artística, estudando pintura com Henrique Cavalleiro e xilogravura com Adir Botelho. Em paralelo, ela frequentou o curso de estética de Ivan Serpa, no Museu de Arte Moderna. A artista diz que não trabalha com a intuição, mas pensa e repensa cada passo de sua criação. Em entrevista à RFI, Anna Maria explicou o título da mostra parisiense: 'Estou aqui'. “Você busca um discurso próprio, diferente, mas isso é uma grande mentira, porque você vem do passado, com todas as culturas do passado. Isso é uma coisa muito forte para mim, porque eu era imigrante no Brasil", lembra. "Ao chegar no Rio de Janeiro, que é uma cidade incrível, eu percebi a liberdade que a arte brasileira tinha", completa. Em 1968, Maiolino obteve a cidadania brasileira. Durante a ditadura, ela e o marido, Rubens Gerchman, se mudaram para Nova York, onde ela realizou parte das obras expostas em Paris. Nos Estados Unidos, a dificuldade por não falar inglês também acabou virando objeto de pesquisa, especialmente em desenhos e poemas. "Eu estive em vários países, em vários lugares. E sempre quando você muda de fronteira, o que existe é a sua presença no lugar. Então, para mim, este título significa que, mais uma vez, eu estou atravessando a fronteira, eu estou na França, estou em Paris, no Museu Picasso, que para mim é mais um território, pois sou uma andarilha, com alma de imigrante", define. Coração brasileiro A artista retornou ao Brasil em 1972, se instalando primeiro no Rio de Janeiro, antes de se mudar para São Paulo, após o divórcio. Suas obras são inspiradas em diferentes línguas, culturas e contextos políticos em que viveu. "Voltar a Paris é voltar para aquilo que eu sou. Eu nasci na Itália, sou uma europeia do Mediterrâneo, mas pertenço a várias camadas dos países onde vivi", afirma. "Meu coração é brasileiro, é carioca. São Paulo não tem linha do horizonte, então me sinto prisioneira em São Paulo", diz. Leão de Ouro em Veneza Em 2024, a artista foi recompensada com o Leão de Ouro na Bienal de Veneza pelo conjunto de sua carreira. Na ocasião, Anna Maria Maiolino dedicou o prêmio à arte brasileira e ao país que a acolheu. "Uma das coisas básicas da minha obra é a memória. A memória física e emocional", diz. "É óbvio que a minha chegada ao Brasil me ajudou a encontrar um discurso particular meu", continua. "Porque o brasileiro começa a sua arte com o Barroco, que é modernidade, não tem uma arte do passado. Tem a arte dos negros africanos, tem a arte dos índios e grande parte da arte brasileira carrega em si um ritual", observa. No Museu Picasso, no bairro do Marais, a exposição de Anna Maria Maiolino dialoga com a obra do artista espanhol. Ela mesma traça semelhanças com ele. “Qual é a minha relação com o Picasso? Mesmo sendo de épocas diferentes, ele ...
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