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De: RFI Brasil
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Entrevistas diárias com pessoas de todas as áreas. Artistas, cientistas, professores, economistas, analistas ou personalidades políticas que vivem na França ou estão de passagem por aqui, são convidadas para falar sobre seus projetos e realizações. A conversa é filmada e o vídeo pode ser visto no nosso site.France Médias Monde Ciencias Sociales
Episodios
  • Sopranista brasileiro vai cantar em concerto do 14 de julho, um dos mais importantes da França
    Jul 12 2025

    O sopranista Bruno de Sá é dono de uma voz extraordinária e uma das figuras de maior destaque da cena lírica europeia contemporânea. Ele foi convidado para cantar no Concerto de Paris, um dos principais eventos de música clássica do mundo, que acontece desde 2012 no dia da festa nacional da França, o 14 de julho, aos pés da Torre Eiffel.

    Apesar de já ter cantado nos palcos mais célebres do mundo, o cantor brasileiro radicado em Berlim, na Alemanha, não esconde a emoção de participar do Concerto de Paris, que antecede a tradicional queima de fogos do dia 14 de julho, interpretando Bachianas Brasileiras n.5, de Villa Lobos.

    "É uma mistura de nervosismo, de ansiedade e, ao mesmo tempo, um senso de responsabilidade gigante", diz o sopranista que interpreta principalmente um repertório em italiano. "Cantar em português é muito raro para mim. Eu não canto tanto quanto eu gostaria. Vir com essa peça que é tão emblemática, nesse lugar icônico e em português, eu acho que vou ter que me segurar para não chorar", afirma.

    O contraste com seus primeiros passos na França é grande, relembra, contando os "perrengues" que passou na capital francesa, há dez anos. "A primeira vez que estive em Paris foi em 2015, enquanto estudante. Vim para cá falando um francês truncado, contando moeda para comprar um sanduíche, para conseguir fazer audição, e aí cheguei e a pianista não tinha ido tocar na audição. Foi um caos", relembra rindo."E aí, de repente, você se vê sendo um dos artistas convidados, junto com outros tantos artistas mundialmente reconhecidos", compara.

    O Concerto de Paris, um dos mais importantes eventos de música clássica do mundo, reúne dezenas de milhares de pessoas no Campo de Marte, aos pés da Torre Eiffel, e é transmitido ao vivo pela tevê e pela rádio em mais de 20 países. A 13ª edição conta com a participação das sopranos russa Aida Garifulina e francesa Julie Fuchs, da violinista sul-coreana Bomsori Kim, do pianista, também da Coreia do Sul, Saehyun Kim, entre outros artistas, acompanhados pela Orquestra Nacional da França e do Coro da Rádio França.

    "Eu realmente espero que, ao subir naquele palco, eu não esteja só, mas que seja toda uma nação", diz. "Porque acho que é um pouco esse o sentimento, de representar minha nação, de ser brasileiro, cantar em português e representar o Brasil. Porque ser brasileiro é motivo de orgulho", afirma.

    Voz fora do comum

    Bruno tem uma voz fora do comum. Ele é sopranista, um homem que canta soprano, voz tradicionalmente feminina. "Eu não sou contratenor, nem um barítono, ou seja, a minha voz, por obra divina, problemas hormonais ou caráter genético, não sei definir qual é a porcentagem de tudo isso, de alguma maneira, manteve o registro infantil, com um corpo de um homem adulto", explica.

    Grande parte do repertório do cantor se concentra no barroco, mas ele já interpretou obras de outros períodos.

    "Atualmente ainda existe quase que um condicionamento das pessoas acharem que se você é um sopranista, ou um contratenor, então você tem que cantar somente música barroca. E isso é um pouco da bandeira que eu venho tentando levantar", diz defendendo a ideia de que o artista não deve se fechar em ideias limitantes.

    "Eu acredito que a gente não deve limitar a produção artística de nenhum artista. No final das contas, eu sou um soprano. Qual seria o repertório de um soprano? Então é nesse lugar, dentro da minha trajetória e também de jornada, que fui abrindo caminho", diz Bruno, o primeiro homem soprano a cantar Wagner e também Bachianas Brasileiras.

    Mas ele admite que, no mundo conservador da ópera, ter uma voz fora da norma não é fácil.

    "Foi difícil e continua sendo difícil", diz. "Meu sonho, honestamente, é chegar um dia onde a gente seja selecionado para um casting, não porque sou a excentricidade, não porque eu sou um homem que tem uma voz aguda. Eu acho que o meu grande sonho seria ser selecionado para uma produção, seja barroca, contemporânea, independente de qual seja o personagem, pelo que eu, enquanto artista, posso comunicar", diz.

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  • Emílio Kalil: “Prazo apertado foi maior desafio para produzir Temporada França Brasil 2025"
    Jul 11 2025

    Sob o sol festivo do sul da França, o Brasil é destaque na programação dos Encontros de Arles, um dos maiores eventos internacionais em torno da fotografia. O país está presente em quatro grandes exposições oficiais, além de muitas manifestações no circuito OFF. O contexto é o da Temporada França Brasil 2025. Emilio Kalil, comissário geral da programação brasileira, conversou com a RFI em Arles.

    Patrícia Moribe, enviada especial a Arles

    No total são cerca de 300 exposições e eventos em toda a França. A programação foi concebida por Kalil em torno de três eixos fundamentais: o meio ambiente, a diversidade e a democracia. Ele explica que os temas foram definidos em 2023 pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Emmanuel Macron, servindo como guias para a construção da temporada. Além desses, um quarto eixo crucial para a curadoria brasileira é a relação entre a França, o Brasil e a África, uma conexão que Kalil considera "muito forte" e essencial na programação.

    “É uma honra muito grande, mas uma complicação também maior ainda, porque você precisa representar um país enorme, complexo, como o nosso, como o Brasil, e fazer dele uma mostra que o francês, já que é na França, tenha uma ideia diferente, nova e desconhecida desse país que a gente sabe que é continental, que é enorme, que tem uma diversidade, que começa em Belém, terminando no Chuí”, explica Kalil.

    Além da magnitude da missão, a equipe de Emilio Kalil enfrentou um cronograma "extremamente apertado", tendo "quase um ano" ou "menos de um ano" para montar toda a programação, o que Kalil descreveu como "quase um milagre". Os principais desafios incluíram a necessidade de pesquisar e selecionar o conteúdo em um período muito curto, acoplado à dificuldade de encontrar instituições na França dispostas a receber as exposições e eventos em cima da hora, já que a maioria já tinha suas agendas fechadas. A questão orçamentária foi outro "imenso" desafio, com o financiamento sendo definido de "última hora" e sofrendo cortes tanto no Brasil, quanto na França.

    Contatos na França

    Para contornar esses obstáculos, Kalil mobilizou sua extensa rede de contatos e anos de trabalho com a França, especialmente nas artes cênicas, o que ajudou a "abrir portas" e gerar uma "cumplicidade enorme" entre franceses e brasileiros. Essa rede de contatos foi fundamental para conseguir que instituições de primeira linha na França acolhessem a programação, incluindo o Museu Picasso, o Museu do Quai Branly, o Museu d'Orsay, o Centro Pompidou, o Carreau du Temple em Nîmes e outros enderenços de prestígio. A temporada também se estende a outras cidades como Nantes, Lille e Lyon.

    A curadoria de Kalil priorizou o conteúdo cultural e educacional, promovendo debates sobre democracia e desinformação, debatendo a questão indígena, e abordando a identidade negra. Em Arles, por exemplo, estão presentes a histórica fotografia modernista forjada a partir de São Paulo, passando por retratistas populares de uma comunidade perto de Belo Horizonte, artistas emergentes e um mergulho místico no candomblé por meio de um jovem fotógrafo neto de mãe de santo.

    Projetos cruzados

    Além disso, a temporada se destaca pelos mais de 40 "projetos cruzados", desenvolvidos em colaboração entre o comissário brasileiro - Emilio Kalil - e a francesa - Anne Louyot. Esses projetos são iniciados no Brasil e depois seguem para a França, ou vice-versa, representando um esforço conjunto e um trabalho "a quatro mãos", explica Kalil.

    O comissário é também o diretor da Fundação Iberê em Porto Alegre, para onde retornará de forma mais assídua após a temporada. Ele planeja levar para a instituição dois importantes segmentos desta temporada: uma mostra do artista franco-palestino Tarik Kiswanson, vencedor de um prêmio no Centre Pompidou, que será inaugurada em 29 de agosto em Porto Alegre, e a exposição sobre Antônio José da Silva, um "grande pintor clássico primitivo brasileiro", que atualmente está em Grenoble e seguirá diretamente para Porto Alegre antes de ir para o MAC da USP em São Paulo.

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  • 'Azira’i' emociona Avignon com ancestralidade, canto e resistência indígena do Brasil
    Jul 10 2025

    Na mostra paralela do Festival de Avignon de 2025, um espetáculo brasileiro vem arrebatando os franceses com sua força e poética ancestrais: Azira’i – Um Musical de Memórias, estrelado por Zahy Tentehar, do povo Tentehara Guajajara, e dirigido por Duda Rios. Em cena, a memória de Azira’i, mãe da atriz, ganha vida através da dramaturgia, do canto indígena e de uma linguagem cênica que ultrapassa fronteiras.

    Márcia Bechara, enviada especial a Avignon

    Zahy Tentehar se tornou a primeira atriz indígena a receber o Prêmio Shell, uma das maiores condecorações do teatro brasileiro. A obra, que agora ecoa no sul da França, nasceu de uma escuta profunda e de uma amizade transformadora.

    “Essa ideia nasceu quando nos conhecemos em uma peça. Conversando com Zahy, ela compartilhou a história da mãe dela. Aquilo me tocou profundamente”, contou o diretor Duda Rios. “Cinco anos depois, conseguimos o financiamento e criamos o espetáculo.”

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    No palco, Zahy está sozinha, "mas nunca solitária". Segundo ela, a presença da mãe, dos antepassados e de muitos povos reverbera em cada gesto, cada canto. “O palco está repleto de todo um povo, de muitas línguas. Eu não sinto em nenhum momento que estou sozinha”, afirma com convicção.

    Um dos aspectos mais potentes da montagem é o uso da língua Ze’eng eté, falada por seu povo. Em um país que, como ressalta o diretor Duda Rios, "foi historicamente colonizador, como a França", "o gesto de ensinar e compartilhar uma língua indígena carrega forte carga simbólica e política".

    “Trazer uma língua tão desconhecida internacionalmente, ensinar sua fonética e gramática à plateia, é uma inversão de papeis feita com suavidade”, observa Rios. “Convido as pessoas a experimentarem a estrutura do Ze’eng eté com afeto, não com imposição", completa a atriz Zahy Tentehar.

    Canto ancestral

    O canto herdado da mãe de Zahy é o eixo central da construção emocional e dramatúrgica do espetáculo. “Antes mesmo de ensaiar ou entrar no palco, eu tenho o hábito de cantar. Cantar me ajuda a ter ideias, a me concentrar. Para mim, é um lugar sagrado.”

    A recepção do público francês tem sido calorosa, embora reveladora de particularidades. “Eles se emocionam muito. Embora riam menos do que o público brasileiro, sentimos uma conexão genuína”, afirma Duda. “O espetáculo foi escrito para o Brasil, mas chega com a mesma potência aqui.”

    "Em cena, Zahy representa também um movimento de quebra de padrões estéticos e educacionais. Sem ter passado por uma escola tradicional de formação de atores, ela ocupa com autoridade e brilho o palco internacional", diz o diretor. “É muito satisfatório poder dizer que nós também somos criadores. Por muito tempo, nos impediram de estar aqui.”

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    Com legendas em francês e inglês, a peça preserva os trechos em Ze’eng eté sem tradução — uma escolha consciente que convida o público a sentir a língua pelo corpo, não apenas compreendê-la pela lógica.

    Azira’i – Um Musical de Memórias é mais que um espetáculo: é um reencontro com saberes ancestrais, uma afirmação estética e uma delicada insurgência que reverbera além das bordas do palco. A peça fica em cartaz até o dia 13 de julho no teatro Manufacture, na mostra paralela do Festival de Avignon de 2025.

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