Para o psicanalista Pedro Ambra, estudar a história da masculinidade é também olhar para os lugares distintos que os homens puderam ocupar na família ao longo do tempo. “No contexto clássico romano, de um lado, você tinha uma ideia dopater familias, esse pai com poderes totais. Pouco depois, entre aqueles povos que a História chamou de bárbaros, o lugar da masculinidade não era violento – pelo contrário, era da ideia de um pai cuidadoso. No Brasil, um ponto que vale destacar é que D. Pedro I foi tomado pelo povo brasileiro como um pai cuidadoso, até misericordioso, simplesmente por não ser um tirano agressivo, como imperava aqui até então. Pensar o que é o homem na família não me parece possível sem incluir os lugares de poder na História. Não existe uma naturalidade que vá encontrar algo em comum em um pai tupinambá pré-invasão dos portugueses, em um pai da família real, nos meus pais biológico ou adotivo. Não me parece que exista uma verdade por trás da palavra ‘pai’ que não esteja vinculada à História.”

Neste episódio, Vera Iaconelli recebe o filho da Astir, do Carlos e do Eduardo, o neto da Doralice e o sobrinho da Valdiva. Pedro Ambra é também professor de psicologia na PUC-SP, autor de “O que é um homem? Psicanálise e história da masculinidade no Ocidente" e organizador de “As subversões do erótico”.

A psicanalista Ilana Katz define a criança que a formou como hegemônica, efeito de uma cultura eurocentrada. Mas sua subjetividade e experiência como analista mudaram radicalmente no contato com outros tipos de infância. “Ao falar da experiência contra-hegemônica, a gente precisa pôr um descritivo: ‘crianças trans, negras, pobres’, como se a criança que não é isso fosse a criança e ponto. No Brasil, ela é filha de famílias biparentais, cis, brancas. A experiência clínica me levou a um primeiro encontro com infâncias contra-hegemônicas a partir de autismos e psicoses. Naquela época, a gente ouvia como se essas crianças não tivessem infância, porque elas têm outra relação com o universo simbólico. Essa ideia de não ter infância também leva a pensar no que se diz de crianças que trabalham, são pobres ou não tiveram a família biparental. Essa ideia do ‘não ter infância’ começou a fazer muito ruído para mim. Eu pensava: ‘como assim não ter infância? Isso aqui é uma outra experiência de infância’.”

Neste episódio, Vera Iaconelli recebe a filha do Abraham e da Helena, a mãe do Mig e do Deco. Ilana Katz também tem as infâncias como principal tema de pesquisa e atua no Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise do Instituto de Psicologia da USP.

O acontecimento mais importante da vida familiar da publicitária Marcela Ceribelli aconteceu mesmo antes do nascimento: dividir a barriga com o irmão. “As pessoas tentam o tempo todo decodificar o que é ter um irmão gêmeo. Hoje, eu sei que isso dita todo o nosso comportamento: a maneira como a gente se sentiu acolhido ou desamparado, ter uma referência masculina o tempo todo. É um grande laboratório de gênero. Hoje, eu estudo muito sobre feminismo e comportamentos femininos no contemporâneo e eu cresci com um menino do meu lado, que passou pelas mesmas experiências, com efeitos, elogios e estímulos diferentes – mas com um pai e uma mãe que estavam tentando muito que a gente se igualasse.”

Neste episódio, Vera Iaconelli recebe a neta da Odete e da Vanda, a filha da Renata e do Lenilson, a irmã do Rodrigo. Marcela Ceribelli é também criadora da agência Obvious, apresentadora do podcast “Bom dia, Obvious” e autora do livro “Aurora: o despertar da mulher exausta”.

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