BORORÓ: a música no Brasil do século XX

By: Alexandre da Maia Raphael Dorsa Neto Rádio Cultura FM de Brasília 100 9
  • Summary

  • Programa semanal sobre a história da música no Brasil do século XX, produzido e apresentado por Alexandre da Maia e Raphael Dorsa Neto. Produção e locução das vinhetas: Fábio Iarede (@podcastdofiarede). O Bororó é transmitido todas as segundas-feiras, 21h, com reprise nas quartas-feiras, 11h, na Rádio Cultura FM de Brasília - 100,9 FM, a rádio pública do Distrito Federal. Aqui a gente conversa sobre pessoas, movimentos, ritmos, gravadoras, lugares e tudo aquilo que interessa à história da música brasileira do século XX. Afinal, Bororó também é cultura.
    Alexandre da Maia, Raphael Dorsa Neto, Rádio Cultura FM de Brasília 100,9
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Episodes
  • Episódio 32 - Candeia
    Oct 7 2024

    Candeia, nascido Antônio Candeia Filho, foi um dos maiores compositores e intérpretes do samba, especialmente dentro da vertente do samba de raiz e do samba-enredo, marcando profundamente a história do gênero. Candeia tinha uma sensibilidade única para retratar as vivências do povo negro, a luta por dignidade e a preservação das tradições do samba e da cultura afro-brasileira.

    Nascido em 17 de agosto de 1935, no bairro de Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, ele cresceu imerso no universo do samba, sendo filho de um mestre de capoeira e sambista, o que desde cedo o ligou às tradições negras e populares. Começou sua trajetória na escola de samba Portela, uma das mais tradicionais do Rio, para a qual compôs sambas-enredo memoráveis. Um dos mais marcantes foi o enredo “Seis Datas Magnas” (1957), que lhe rendeu o primeiro campeonato da escola e destacou seu talento.

    Além de seu papel na Portela, Candeia também se destacou por sua carreira solo. Um momento crucial em sua vida ocorreu em 1965, quando foi baleado em um confronto com um policial, o que o deixou paraplégico. Esse evento foi transformador, pois embora tenha limitado sua mobilidade física, não diminuiu sua veia criativa, e ele usou sua música para fortalecer suas lutas por igualdade racial e valorização da cultura afro-brasileira.


    Sua discografia é um tesouro para qualquer amante do samba. O álbum “Axé! Gente Amiga do Samba” (1978) é um dos pontos altos de sua obra, onde Candeia expressa seu amor pelo samba de roda, a cultura popular e a religiosidade afro-brasileira, especialmente o candomblé. Outra obra essencial é o disco “Samba de Roda” (1975), em que ele aprofunda ainda mais as raízes do samba tradicional, trazendo um resgate dos sambas de terreiro e das rodas de partido alto.

    Candeia também foi um ativista cultural e um dos fundadores do Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo, em 1975. Esse projeto tinha como objetivo resgatar a essência das escolas de samba, que, segundo ele, estavam se afastando de suas raízes comunitárias e culturais em prol de uma maior comercialização e espetáculo. O Quilombo defendia a participação da comunidade e a preservação das tradições afro-brasileiras.

    Entre suas composições mais conhecidas estão canções como “Preciso Me Encontrar”, uma de suas obras-primas, eternizada pela gravação de Cartola e também famosa na voz de Marisa Monte, e “Testamento de Partideiro”, onde declara seu orgulho de ser sambista e partideiro, celebrando a força do samba como símbolo de resistência.

    Candeia morreu jovem, aos 43 anos, em 1978. Ele foi um poeta do samba que expressou com profundidade a luta e o orgulho do povo negro, e sua música permanece uma referência fundamental para quem busca entender o verdadeiro espírito do samba.

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  • Episódio 31 - Nelson Cavaquinho
    Sep 30 2024

    Nelson Cavaquinho é uma das figuras mais emblemáticas e profundas da história do samba brasileiro. Nascido Nelson Antônio da Silva em 29 de outubro de 1911, no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro, ele moldou o samba com uma sensibilidade crua e honesta que refletia tanto sua vida difícil quanto suas reflexões sobre o tempo, a morte e a existência humana. Ao contrário de muitos sambistas que celebravam o lado festivo do gênero, Nelson caminhou na contramão, criando uma obra marcada pela melancolia e pelo lirismo profundo.

    Embora seu nome artístico faça referência ao cavaquinho, Nelson foi um mestre no violão. Curiosamente, ele desenvolveu uma técnica única de tocar violão utilizando apenas dois dedos da mão direita, algo que, embora limitado tecnicamente, lhe permitiu criar um estilo inconfundível. Sua música, com harmonia simples e melodias diretas, valorizava as letras, onde residia o coração de sua arte.


    Nelson Cavaquinho cresceu em um Rio de Janeiro onde o samba ainda estava ganhando as ruas e as rodas de samba se tornavam o centro das atividades culturais das comunidades. Seu envolvimento com a Mangueira, uma das escolas de samba mais tradicionais, foi um ponto de virada em sua vida e carreira. Na Mangueira, ele se aproximou de outros gigantes do samba, como Cartola e Carlos Cachaça, e foi ali que encontrou o ambiente propício para compor algumas das suas canções mais memoráveis.

    O que faz Nelson Cavaquinho singular no panteão do samba é a sua obsessão com temas como a efemeridade da vida, a morte e a desilusão. Em canções como "A Flor e o Espinho", composta em parceria com Guilherme de Brito e Alcides Caminha, há uma profunda reflexão sobre o sofrimento e a inevitabilidade da dor na experiência humana. A letra, que diz "tire o seu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor", sintetiza essa visão amarga e poética da vida, uma visão que permeia grande parte de sua obra.

    Sua parceria com Guilherme de Brito foi uma das mais frutíferas da música brasileira. Juntos, criaram uma vasta obra de sambas que se tornaram verdadeiros hinos, não apenas para o público, mas para as rodas de samba e os grandes intérpretes da música popular brasileira. Essa união de talentos resultou em clássicos que equilibravam simplicidade melódica e complexidade emocional, algo raro e precioso no cenário musical.


    Nelson era um homem de hábitos simples, que viveu a maior parte de sua vida sem os luxos ou o reconhecimento que suas composições mereciam. Apenas mais tarde em sua carreira, já na década de 1970, ele começou a ganhar o devido reconhecimento, com artistas renomados gravando suas músicas e levando seu nome para um público maior. Sua participação em discos importantes e documentários ajudou a consolidar sua posição como um dos grandes mestres do samba.


    Embora tenha enfrentado muitas dificuldades ao longo da vida, inclusive com o alcoolismo, que marcou sua trajetória pessoal e artística, Nelson nunca perdeu a capacidade de transformar a dor em beleza. Suas canções são monumentos à condição humana, especialmente à fragilidade e à impermanência da vida. Ao ouvir sua obra, é impossível não se sentir tocado pela honestidade emocional que ele colocava em cada verso.


    Nelson Cavaquinho morreu em 18 de fevereiro de 1986, deixando um legado que vai muito além do samba. Suas canções são verdadeiros poemas musicais que falam de uma filosofia de vida, de aceitação e de compreensão das limitações humanas. Nelson enxergava o mundo com olhos de poeta, e seu talento estava em expressar isso de maneira tão simples quanto profunda.

    Se o samba pode ser visto como a alma do Brasil, Nelson Cavaquinho foi o cronista das suas sombras, das suas tristezas e das suas belezas mais silenciosas. Sua obra, mesmo mergulhada em temas dolorosos, encontra beleza no sofrimento e faz da melancolia um instrumento de conexão humana. Cada acorde e cada verso de suas músicas são como um espelho para a alma daqueles que o ouvem, um lembrete de que, mesmo na dor, há poesia.

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    56 mins
  • Episódio 30 - Elton Medeiros
    Sep 22 2024

    Elton Medeiros (1930–2019) foi um dos mais importantes compositores e sambistas brasileiros, reconhecido por sua contribuição à música popular brasileira, especialmente ao samba, mas não apenas a ele.

    Nascido no Rio de Janeiro, Elton cresceu no ambiente do samba e do carnaval, influenciado pelas rodas de samba de bairros como Glória e Lapa. Sua carreira foi marcada pela parceria com grandes nomes da música brasileira, como Paulinho da Viola, Candeia, Cartola e Zé Keti, todos em grande medida graças ao Zicartola, casa fundamental para a construção de grupos e espetáculos musicais, como o "Rosa de Ouro", que recupera a grande cantora Aracy Cortes e lança Clementina de Jesus como artista.

    Elton Medeiros foi um compositor que sempre prezou pela qualidade poética e melódica de suas canções, criando sambas clássicos como "O Sol Nascerá" (com Cartola), "Coração Vulgar" e "Pressentimento" (com Hermínio Bello de Carvalho).

    Sua obra é marcada por uma profunda sensibilidade e capacidade de traduzir as emoções do cotidiano em letras comoventes e melodias refinadas, que o tornaram um ícone no cenário do samba. Ao longo de sua vida, Elton Medeiros preservou as raízes do samba, mas também soube inovar, o que garantiu seu lugar entre os grandes nomes da música popular brasileira.


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