Moda circular e upcycling reforçam caminhos sustentáveis para um setor têxtil em transição Podcast Por  arte de portada

Moda circular e upcycling reforçam caminhos sustentáveis para um setor têxtil em transição

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No Brasil, em 2023 cada cidadão descartou, em média, 21 quilos de têxteis, couros e borrachas por ano, segundo levantamento da S2F Partners, hub especializado em gestão de resíduos e economia circular. Na Europa, o cenário também é preocupante: de acordo com a Agência Europeia do Meio Ambiente, cada habitante da União Europeia gera cerca de 16 quilos de resíduos têxteis anualmente. Diante deste quadro, impulsionado pelo mercado fast fashion, iniciativas como a moda circular e o upcycling de tecidos ganham força para promover uma economia mais sustentável. O objetivo é reduzir o impacto ambiental do setor têxtil e promover práticas que valorizem a reutilização das peças e a responsabilidade ambiental. Somente na França, a Refashion, organização de gestão e prevenção de resíduos têxteis, calcula que os franceses joguem fora em média 700 mil toneladas de roupas todos os anos – e os números vem aumentando, estimulados pelo alto consumo a baixos custos, facilitado pelas compras online. Novas formas de consumo e redução do lixo têxtil Em Paris, a estilista franco-brasileira Márcia de Carvalho está por trás da Chaussettes Orphelines, associação que oferece uma segunda vida às meias e outras peças pelo reaproveitamento de fios. As peças rejeitadas são transformadas em fios para bordados e costura. Márcia destaca a importância de marcas, agências do governo, associações e instituições “comunicarem e criarem uma pedagogia em volta do desse assunto”, para alertar o consumidor final sobre o descarte de roupas e calçados. “É super importante porque é uma mudança de comportamento. A gente tenta fazer isso comunicando através das coletas e explicando que tem outras formas de tratar o lixo, que começa já pela triagem", explica. "Não é apenas jogar fora, mas procurar lugares que vão transformar. É um primeiro gesto de para redução desse lixo têxtil. Outra coisa é a pedagogia do conserto, do reparo, de customizar a peça, que é um jeito bem legal de reduzir esse lixo”, defende a estilista. Em Paris, a Chaussettes Orphelines divulga oficinas para encorajar o conserto de roupas e a criatividade para transformar peças antigas ou com algum defeito. A iniciativa também já capacitou centenas de mulheres para o mercado de trabalho, desde 2008. Márcia enfatiza ainda a coletas de materiais que a associação realiza em empresas e que cofinanciam as iniciativas de upcycling. Ressignificar os resíduos têxteis industriais No Brasil, dados de 2023 indicam um descarte de 4,6 milhões de toneladas de lixo têxtil por ano pela população. Mas os números são mais impressionantes na indústria, que jogam fora cerca de 37 vezes mais, mesmo que o país tenha uma série de leis que regulamentam a reciclagem de resíduos industriais, salienta Ariane Santos, fundadora da empresa paranaense Badu Design, que atua no upcycling socioambiental. “São mais de 170 milhões de toneladas de material residual por ano. Tem a regulamentação, mas não tem a fiscalização, então o número hoje de material residual industrial é bem maior. A gente fala que é só a ponta do iceberg. São materiais que devem durar mais de 500 anos no meio ambiente”, aponta Ariane. O trabalho da Badu Design é dar uma nova vida aos resíduos industriais têxteis das empresas e também de gerar empregos, já tendo formado mais de 1,5 mil mulheres periféricas em design circular de transformação residual, no Paraná, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, e, em breve, em Minas Gerais. “O que a gente faz hoje é oferecer para as indústrias um serviço que visa ressignificar esse material. Algumas empresas fornecem toneladas de materiais. Formamos mulheres em periferias e favelas para fazer toda uma produção de produtos que têm design mais contemporâneos e que venham agregar valor. Depois, essa empresa faz a recompra”, diz, à RFI. Ariane Santos conta que a capacitação gera uma mudança econômica para as mulheres que estão na periferia e favela. “A gente também faz com que a indústria não veja [o descarte de resíduos têxteis] como mais uma ação social, mas sim como uma responsabilidade que ainda agrega valor para ela em dois pontos: na questão da imagem da empresa sobre riscos ambientais, evitando multas, mas também trazendo uma possibilidade de ser rentável”, esclarece. As duas empresárias, com atuação no Brasil e na França, acreditam que a adaptação econômica por meio da transformação dos resíduos pode movimentar uma mudança cultural no setor têxtil, um dos setores da indústria que mais poluem o planeta.
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