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Bate-papo com os correspondentes da RFI Brasil pelo mundo para analisar, com uma abordagem mais profunda, os principais assuntos da atualidade.France Médias Monde Política y Gobierno
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  • 30 anos do genocídio de Srebrenica: memória, justiça e paralelos com Gaza
    Jul 11 2025

    Nesta sexta-feira (11), a Bósnia e Herzegovina lembra três décadas do genocídio de Srebrenica, quando cerca de 8.372 pessoas - homens, meninos, mulheres e meninas - foram assassinadas pelas forças sérvias, em julho de 1995. Reconhecido como genocídio por tribunais internacionais como a Corte Internacional de Justiça e o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia, o episódio se consolidou como um símbolo da falência da comunidade internacional diante de crimes sistemáticos de extermínio.

    Giovanna Vial, Sarajevo, Bósnia e Herzegovina

    As vítimas eram majoritariamente bosníacos, grupo étnico de herança muçulmana originário da Bósnia, diferentemente do termo “bósnio”, que se refere a qualquer cidadão do país, independentemente de religião ou etnia. Foi justamente essa comunidade - os bosníacos -o alvo central do projeto genocida conduzido durante a guerra da Bósnia, entre 1992 e 1995.

    Em Sarajevo, a capital do país, dezenas de pessoas saíram às ruas na noite anterior ao aniversário do genocídio. Em uma marcha silenciosa pelo centro histórico da cidade, manifestantes empunharam bandeiras da Bósnia e da Palestina, vestiram keffyehs - lenços tradicionalmente associados à resistência palestina - e exibiram cartazes com mensagens que ligavam diretamente os crimes cometidos em Srebrenica aos que vêm sendo denunciados atualmente em Gaza.

    Entre os participantes, a estudante de medicina Ana Ibrahimović, nascida e criada em Sarajevo, contou que a marcha em solidariedade aos palestinos ocorre todos os anos na cidade. Mas, segundo ela, 2025 carrega um peso diferente.

    “O que está acontecendo em Gaza tem muitas semelhanças com o que aconteceu em Srebrenica. É como se a história estivesse se repetindo. O mundo não aprendeu a lição”, disse Ana.

    Consequências e traumas

    O genocídio de Srebrenica, ocorrido em julho de 1995, representou o ápice de uma campanha sistemática de extermínio contra os bosníacos. Antes mesmo do massacre, a cidade já estava sitiada há três anos. Durante esse período, mais de 10 mil pessoas foram mortas — vítimas de bombardeios constantes, da fome e de franco-atiradores.

    Mulheres foram aprisionadas em campos onde sofreram estupros sistemáticos. Civis foram forçados a usar braçadeiras brancas para identificação, expulsos de suas casas, enterrados em valas comuns ou, em alguns casos, queimados vivos.

    As consequências ainda se fazem sentir: milhares de corpos continuam desaparecidos, exumações seguem em curso e novas valas continuam sendo encontradas. Os sobreviventes carregam traumas físicos e psicológicos profundos. Muitas das crianças nascidas dos estupros cometidos em campos de concentração estão hoje na casa dos 30 anos, lidando com as marcas de uma história brutal.

    O caso de Srebrenica representou um marco no Direito Internacional: foi a primeira vez que um tribunal internacional - o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia - indiciou indivíduos por genocídio.

    Três décadas depois, a comparação com o que ocorre atualmente em Gaza ressalta a necessidade de não simplificar esses acontecimentos a meros conflitos religiosos, sob pena de apagar os projetos políticos e militares por trás das atrocidades e relativizar a responsabilidade dos autores.

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  • Enquanto líderes discutem reconstrução da Ucrânia, Zelensky pede apoio urgente à defesa
    Jul 10 2025
    Começou nesta quinta-feira (10), em Roma, a 4ª Conferência Internacional de Doadores para a Reconstrução da Ucrânia. O encontro de dois dias reúne o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, o chanceler alemão, Friedrich Merz, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, além de comissários europeus e empresários. Gina Marques, correspondente da RFI em Roma Esta é a quarta vez que líderes internacionais se reúnem para discutir a reconstrução do país. As expectativas são altas, mas o desafio financeiro é imenso: segundo o Banco Mundial, o plano de reconstrução da Ucrânia exige cerca de US$ 500 bilhões — recursos que ainda não estão disponíveis. Na abertura do encontro, a primeira-ministra Georgia Meloni declarou que os participantes estavam dispostos a mobilizar cerca de € 10 bilhões para ajudar Kiev. Já o presidente ucraniano pediu que seus aliados invistam mais na defesa diante dos ataques russos. Ele também acusou Vladimir Putin de querer destruir “a vida em sua própria essência”, enquanto o número de vítimas civis na Ucrânia atingiu, em junho, um recorde mensal nos últimos três anos, segundo uma missão da ONU. “Os ucranianos enfrentam agora ataques com centenas de drones todas as noites. Isso é puro terrorismo”, denunciou Zelensky. O chanceler alemão, Friedrich Merz, exortou o presidente americano, Donald Trump, a “permanecer ao lado dos europeus” no apoio à Ucrânia. “Fique ao nosso lado e ao lado dos europeus. Estamos na mesma sintonia e buscamos uma ordem política estável neste mundo”, declarou Merz, acrescentando, em mensagem dirigida à Rússia: “Nós não vamos desistir”. O evento tem como objetivo político alertar para o risco de descumprimento das promessas feitas nas edições anteriores, realizadas em Lugano (2022), Londres (2023) e Berlim (2024). Nos bastidores, cresce a preocupação de que, sem mobilização internacional e, sobretudo, sem investimento privado substancial, o plano de revitalização e modernização da Ucrânia não avançará. Enquanto não houver sinais concretos de negociações de paz, investidores seguem cautelosos. BlackRock, JPMorgan e o fundo de reconstrução da Ucrânia Em 2023, o governo ucraniano incumbiu a BlackRock e o JPMorgan de estruturar um fundo internacional para atrair capital e catalisar o investimento privado na reconstrução pós-guerra da Ucrânia, reconhecendo que não conseguiria fazê-lo sozinho. A proposta previa a criação de um fundo de recuperação avaliado em mais de US$ 15 bilhões, com US$ 2 bilhões provenientes da iniciativa privada. O fundo seria registrado em Luxemburgo e administrado por um comitê de investimentos com analistas internos. Para atrair investidores considerados “mais cautelosos”, a estrutura de governança buscou incluir governos e instituições financeiras internacionais, oferecendo proteção contra riscos e tornando o projeto mais atrativo. Os recursos seriam direcionados a setores estratégicos, como infraestrutura, energia, agricultura e produção industrial. No entanto, em janeiro de 2025, a BlackRock, maior fundo de investimentos do mundo, suspendeu o projeto de captação de recursos devido à “falta de interesse”, principalmente dos Estados Unidos, que, na prática, não apoiaram a iniciativa. Essa falta de apoio está ligada à ambiguidade da posição de Donald Trump desde que reassumiu a presidência. Apesar de seu ativismo, Trump nunca assumiu uma posição clara sobre o financiamento dos esforços de defesa e reconstrução da Ucrânia, o que impactou negativamente a confiança dos investidores. Entre os governos europeus — os mais politicamente expostos no apoio a Kiev — sempre houve o receio de que a escolha da BlackRock, liderada por Larry Fink, poderia desestimular outros atores a comprometer recursos para a recuperação do país invadido pela Rússia. Solucionar essa equação financeira será o pano de fundo constante do evento de dois dias realizado no centro de congressos La Nuvola, em Roma — uma arrojada obra do arquiteto Massimiliano Fuksas, inaugurada em 2016 e projetada para se assemelhar a uma nuvem. Participantes de peso Uma delegação americana participa do evento, liderada pelo enviado especial para a Ucrânia, Keith Kellogg. No entanto, nenhum membro do governo de Washington é esperado. Estão presentes cerca de 3.500 participantes, incluindo mais de 100 delegações oficiais, 40 organizações internacionais, 2.000 empresas — aproximadamente 500 delas italianas —, além de centenas de representantes de governos locais e da sociedade civil. Os potenciais investimentos devem se concentrar em infraestrutura, habitação, energia, indústrias estratégicas, setor digital e saúde. Grandes ausentes Entre as ausências notáveis estão o presidente francês, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro ...
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  • Reforma em Portugal ameaça direitos de imigração e cidadania de brasileiros
    Jul 9 2025

    As mudanças incluem aumento no tempo de residência para pedir cidadania, restrições ao reagrupamento familiar e fim da regularização sem visto prévio.

    Lizzie Nassar, correspondente da RFI em Lisboa

    O debate sobre as alterações significativas nas Leis da Nacionalidade e dos Estrangeiros começaram na manhã desta quarta-feira (9), em Lisboa. Com propostas apresentadas pelo governo, pelo partido de extrema direita Chega e pelo Bloco de Esquerda, as possíveis mudanças preocupam os brasileiros, que hoje somam mais de 500 mil residentes legais em Portugal.

    Entre os principais pontos em discussão estão o aumento do tempo de residência necessário para solicitar a nacionalidade portuguesa, mudanças nas regras para o reagrupamento familiar e novas exigências para a entrada e permanência de estrangeiros no país. As propostas também incluem a criação de uma nova unidade da PSP (Polícia de Segurança Pública) voltada para a fiscalização migratória.

    Hoje, cidadãos de países lusófonos como o Brasil precisam residir legalmente por cinco anos em Portugal para obter a cidadania. Com as novas regras, esse prazo pode subir para sete anos — e, para estrangeiros de fora da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), até dez anos. Além disso, bebês nascidos em território português só teriam direito à nacionalidade se os pais estiverem legalmente no país há pelo menos três anos — o dobro do que é exigido atualmente.

    Reagrupamento familiar sob novas restrições

    Outro ponto sensível é o reagrupamento familiar. A proposta prevê que imigrantes só poderão trazer familiares para o país após dois anos de residência legal — com exceção de menores de idade. Atualmente, esse processo é mais flexível e é essencial para muitas famílias brasileiras que vivem em Portugal.

    Além disso, o visto de busca de trabalho passaria a ser restrito a profissionais altamente qualificados, e deixaria de ser possível entrar no país como turista e posteriormente solicitar o título de residência — prática comum nos últimos anos.

    Diante da possibilidade de mudança nas regras, muitos brasileiros têm lotado os balcões do Instituto dos Registros e do Notariado para adiantar pedidos de nacionalidade. Há também um aumento nos processos judiciais relacionados à renovação de residência e ao reagrupamento familiar.

    Tramitação parlamentar e próximos passos

    As propostas ainda estão em fase de discussão na comissão especializada, o que significa que os deputados irão analisar os detalhes dos textos, mas não votarão imediatamente. O governo português afirma estar aberto a negociações para buscar um consenso no Parlamento.

    A expectativa é que o debate se encerre até o fim de julho ou em setembro. Se aprovadas, as alterações seguem para sanção do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que pode, inclusive, consultar o Tribunal Constitucional no caso da Lei da Nacionalidade.

    Impacto direto sobre brasileiros

    Durante o Fórum de Lisboa, realizado na semana passada, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes expressou preocupação com o tom do debate político em torno da imigração. Ele destacou o histórico de laços entre Brasil e Portugal e afirmou confiar na capacidade de diálogo entre os dois países.

    "Espero que isso não afete as relações Brasil-Portugal. Somos sempre bem recebidos aqui, a comunidade brasileira contribui muito para o desenvolvimento do país. Nós estaremos sempre defendendo a presença de brasileiros em Portugal — assim como defendemos a presença de portugueses no Brasil", declarou Mendes.

    Enquanto o debate parlamentar avança, o clima entre imigrantes é de incerteza. As próximas semanas serão decisivas para definir o rumo da política migratória em Portugal — e, com ela, a vida de milhares de brasileiros que chamam o país de casa.

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