Cia brasileira traz materialidade radical do teatro em diálogo com a pornografia para Avignon Podcast Por  arte de portada

Cia brasileira traz materialidade radical do teatro em diálogo com a pornografia para Avignon

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A RFI conversou com a encenadora brasileira Janaina Leite, que traz para esta 79ª edição do Festival de Avignon História do Olho. Livremente inspirado no texto original do francês Georges Bataille, a obra é um dos espetáculos mais provocadores e iconoclastas da temporada brasileira homenageada na mostra paralela de 2025. Numa cena ocupada por 16 performers, o espetáculo constrói um diálogo ousado entre teatro e pornografia, desejo e morte, humor e transcendência. Márcia Bechara, enviada especial a Avignon Com uma trajetória marcada por investigações sobre o corpo, a performatividade e os limites entre realidade e ficção, Janaína Leite leva ao palco uma encenação que desafia convenções estéticas e morais. “A pornografia cruza uma dimensão estética e ética que me apaixona”, afirma a diretora. “Ela não é apenas repetição de corpos — é também criação de corpos. É um território de invenção, de disputa de narrativas e de imaginário.” Na versão original brasileira, o espetáculo incluía um entreato musical em que o público circulava, bebia e assistia a outras cenas. No entanto, essa parte foi retirada para a apresentação em Avignon. Ainda assim, a dimensão musical permanece como um elemento essencial da obra. “Ela traz uma dimensão paródica, que é muito cara ao Bataille — uma alegria quase ingênua, mesmo no contato com a dor e com a morte. As músicas brincam com o interdito de forma quase infantil. Tenho dois filhos que adoram falar ‘cocô’, ‘xixi’... e isso também está na peça, como uma forma de trazer à boca o que é proibido.” Leia também'Falar com os mortos é uma das bases do teatro', diz Milo Rau ao estrear peça-manifesto em Avignon "Horrível e sublime" A encenação inclui práticas extremas como fisting e suspensão corporal, e navega entre o sublime e o grotesco. “Bataille trabalha essas tensões extremas entre o corpo que apodrece, que goza, e o desconhecido, o cósmico, o belo. Ele é capaz de falar do horror e do sublime ao mesmo tempo. E você não sabe mais se está sentindo repulsa ou fascínio”, diz a diretora. “Isso tem muito a ver com o desejo, onde atração e repulsa são ambíguas.” Para Janaína, o teatro é um território híbrido, que carrega em sua origem práticas rituais. “Como trazer para o teatro de hoje uma materialidade radical? Como se, no passado, sacrificássemos um animal ou um corpo humano para oferecer ao sol — como numa arena. Essa imagem me fascina. E ela se conecta com o trabalho dos performers, que fazem uma cena de suspensão corporal e lidam, todos os dias, com uma pele que será perfurada, costurada depois.” A trilha sonora foi criada por André Medeiros Martins, Ultra Martini, Vini Vinithekid e Renato Navarro, que, segundo a diretora, foram fundamentais para a construção do espetáculo. “Eles criaram esse show dentro da peça. Tivemos que reduzir a duração de 2h50 para 2 horas por conta da coabitação de cena, mas o show cumpre essa passagem entre o cósmico e o vulgar, entre o intelectual e o bobo, talvez até o inocente.” Leia tambémTeatro brasileiro é homenageado no Festival de Avignon, o maior evento de artes cênicas do mundo Recepção do público europeu A recepção do público europeu tem sido diversa — e, para a diretora, isso é parte do processo. “Viemos de uma cena em São Paulo muito habituada à minha pesquisa. Aqui, talvez o olhar seja mais curioso, mais reticente. Mas não temos nenhuma intenção de chocar. É um convite afetuoso para pensar o corpo — e esses corpos.” A companhia já havia se apresentado na Alemanha, em Heidelberg, onde, segundo Janaína, viveu uma das experiências mais marcantes com a peça. “Foram 400 pessoas com a gente por três horas. Foi uma das apresentações mais maravilhosas que já fizemos", relembra. Em Avignon, a primeira apresentação foi “maravilhosa”, a segunda “mais difícil”. Mas a diretora vê nisso uma oportunidade: “Talvez a gente não tenha há algum tempo essa chance de sair de um certo consenso e ouvir, sentir reações inesperadas. Isso é precioso.” Com uma equipe de 23 pessoas, sendo 16 em cena, a companhia brasileira celebra a oportunidade de apresentar seu trabalho em um dos maiores festivais de teatro do mundo. “Está sendo um grande acontecimento cruzar o oceano e apresentar esse trabalho aqui. Ainda faltam seis apresentações, e estamos curiosos para ver como tudo vai se encaminhar”, conclui. * Para ver a entrevista completa com a diretora Janaína Leite, clique na imagem principal deste texto
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